Opinião – A violência religiosa no próximo Oriente

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Manuel Augusto Rodrigues

Manuel Augusto Rodrigues

 

Extremamente confusa e com um futuro de todo incerto é a situação no Próximo Oriente e países vizinhos. Síria, Iraque, Israel, Palestina e Faixa de Gaza – eis alguns pontos negros dessa área geográfica. A guerra e os preconceitos religiosos e étnicos dominam criando nas populações problemas de toda a ordem. Recentemente a criação do CI ou EI (Califado Islâmico ou Estado Islâmico) pelos jihaditas veio trazer um novo foco de perturbação com os sunitas e os chiitas a travarem entre si uma luta que parecia ultrapassada. As notícias e imagens que a cada momento chegam dessas paragens horrorizam e revelam o homem, ser dotado de inteligência, no grau mais deprimente. Longe, lá longe, as fábricas de armamentos, a que se agregam interesses económicos de vária ordem, vão abastecendo a fúria e o rancor disseminados por todo o lado.

O termos diálogo, liberdade religiosa, justiça, promoção do homem e do bem comum soam a vazio e colocam fora do circuito o ideal de paz e de sã convivência entre os povos. Estes são atirados para a pobreza e as mais degradantes condições de vida enquanto se mantêm na sombra muitos privilegiados que beneficiam de tal estado de coisas. E a indiferença do mundo é uma realidade palpável, devendo contudo salientar-se o empenho e apoio de não poucas organizações e das Igrejas conscientes do valor da fraternidade. No terreno as comunidades cristãs são uma minoria no seio de uma área geográfica dominada pelo islamismo, salvo o caso de Israel. A história bíblica desenrolou-se ali, desde a Mesopotâmia ao Egipto. O cristianismo propagou-se depois pelo Império Romano e chegou aos quatro cantos da Terra. O judaísmo sobreviveu no meio de convulsões frequentes e o islão, surgido no séc. VII, depressa conheceu um crescimento impressionante e hoje a Europa vai-se tornando um continente bastante islamizado.

Cingindo-nos à fortíssima oposição ao cristianismo no Iraque, lembramos que o Papa Francisco juntando a sua voz aos bispos do Médio Oriente tem pedido com insistência que se protejam os cristãos iraquianos. Ele e muitos outros apelam à comunidade internacional que intervenha no sentido de as autoridades muçulmanas emitirem “fátuas” ou decretos que proíbam os ataques contra as minorias. Reunidos no patriarcado maronita (norte do Líbano), os bispos analisaram a situação dos cristãos no Iraque, depois de o grupo jihadista Estado Islâmico ter expulsado e ameaçado de morte as populações que usam a letra N no peito a significar que são Nazarenos, ou seja, cristãos. Não se sabe ao certo o número de vítimas desta violenta perseguição mas ainda recentemente cem mil cristãos fugiram do norte do Iraque perante o avanço dos jihadistas depois de estes terem conquistado Qaraqosh, a maior cidade dessa região, e dos seus arredores. “É uma catástrofe, uma situação trágica. Apelamos ao Conselho de Segurança da ONU para que intervenha imediatamente. Dezenas de milhar de pessoas aterrorizadas abandonam diariamente as suas casas. Não podemos descrever o que está ocorrendo”, declarou no passado dia 7 Joseph Thomas, arcebispo caldeu de Kirkuk y Suleimaniya ao referir-se ao êxodo de tanta gente.

Além de Qaraqosh os milicianos tomaram as cidades de Tal Kaif, Bartela y Karamlesh, acrescentou o prelado. Ali destruíram cruzes e queimaram e roubaram manuscritos e grande quantidade de objectos nas igrejas locais. Qaraqosh era uma cidade totalmente cristã que se encontra na província de Ninive, entre Mossul, principal cidade nas mãos dos jihadistas do Estado Islâmico (EI), e Erbil, a capital regional curda. Contava com uma população de umas 50.000 pessoas. «Pedimos ao mundo e ao Papa Francisco que se ocupem da situação dos cristãos do Iraque» , afirmou um representante da Igreja caldeia, que leu um comunicado conjunto no termo da reunião. Por seu turno, o bispo maronita de Beirute, Bulos Matar, exortou o Conselho de Segurança que vote «uma resolução firme que exija o regresso dos proprietários às suas terras o mais depressa possível». Às autoridades religiosas islâmicas Matar pediu-lhes que condenem os actos contra os cristãos e às autoridades religiosas sunitas e chiitas que «publiquem “fátuas” que proíbam as agressões contra os cristãos, os inocentes os seus bens». Não se trata de um acidente ou de uma emigração forçada pelo medo, mas de uma decisão do EI, que está em contradição com os tratados internacionais. O bispo Matar criticou também a «indiferença do mundo» relativamente ao destino dos bispos sequestrados na Síria, Yuhanna Ibrahim e Bulos Yazigi, em Abril de 2013 e exigiu a sua libertação imediata. Mirkis, citado pela France Presse, falou de uma verdadeira «catástrofe», solicitando «a imediata intervenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os homens do autoproclamado “Califado” incentivam a fúria dos milicianos que têm encontrado forte oposição por parte dos peshmerga curdos.

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