Foi em 2011 que Filipe Sousa decidiu “pegar nas malas” e viajar até ao outro lado do Atlântico. Por lá esteve durante seis meses. Voltou logo que teve autorização – a 19 de julho de 2012 – e nunca mais regressou a Portugal. Desde essa altura vive em Salvador da Baía, cidade que o acolheu ainda durante o curso.
Licenciado em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e com uma pós-graduação em Direito da Comunicação pela mesma universidade, há muito que o jornalismo não faz parte da vida de Filipe Sousa. Com bons conhecimentos de inglês, o jornalista de formação é agora professor no Brasil. “Tenho trabalhado em escolas como professor, primeiro de Redação (divide-se Língua Portuguesa em Gramática e Redação) e de Inglês e depois apenas como professor de Inglês numa escola de idiomas. Atualmente trabalho como professor particular de Inglês e faço alguns trabalhos de consultoria de comunicação e marketing”, refere Filipe Sousa.
Em Portugal chegou a andar de microfone em punho, num estágio realizado na SIC, passou por uma experiência de rádio e, posteriormente, trabalho na área da comunicação empresarial e depois em análise de comunicação social.
Aos 32 anos decidiu dar o “grito do Ipiranga” porque sentia “insegurança” por motivos profissionais. Agora, afirma, Filipe Sousa, não se sente realizado e a insegurança profissional mantém-se. Embora seja por motivos diferentes – “em Portugal não via oportunidades nem futuro” – no Brasil põe-se o problema de ser estrangeiro e as empresas não saberem como contratar um não-sul-americano. “Neste momento estou num processo de contratação que não sei quanto tempo vai durar ou sequer se vai concretizar-se”, realçou ao DIÁRIO AS BEIRAS.
O regresso… ai o regresso
Claro que regresso é palavra que faz parte do dicionário do jovem emigrante, porém, está condicionado. “Regressar é sempre uma hipótese, desde que haja condições para viver sem ser dependendo dos meus pais ou passando dificuldades”.
Pelo meio, e ao longo destes anos, já houve lugar para as desilusões. A começar pela falta de civismo “algo gritante” que se vê na rua ou no trânsito. Mas pior é o “preconceito histórico que ainda existe para com os portugueses, principalmente vindo de pessoas com menos instrução (e não são propriamente poucas)”. Filipe Sousa explica que “é um ódio de estimação que passa de pais para filhos e de boca em boca”. E isso já o poderia ter feito regressar a Coimbra, a sua cidade natal, não fosse, até agora a sua “paciência de santo” e conhecer pessoas que contrariam essa caraterística.
Um clima fantástico
O clima é, talvez, o que mais agrada ao jovem conimbricense. “Agrada-me que as pessoas sintam frio com 20 graus, o que para mim é uma temperatura maravilhosa”, observa. A isto junta-se o otimismo e a felicidade natural das pessoas, bem como o “desafio” de ser um lugar que tem muito para se desenvolver e a ideia de que Filipe Sousa pode “fazer parte desse desenvolvimento”.
Mas em tudo há um senão. E aqui sente-se de forma “ insistente e persistente” o facto de ser de Portugal. É recorrente que sejam abordado com um dos responsáveis “por tudo o que tem de mau” no Brasil ou “os portugueses levaram o nosso ouro e mataram os índios”. Há ainda uma abordagem mais simples que não deixa igualmente de ser ofensiva e que passa pelo tratamento enquanto “turista sexual”.
Apesar das partes menos boas, vai valendo a pena estar a muitas horas de distância da família e dos amigos e da cidade que o viu crescer. Pois é com preocupação que olha para os números de desemprego no nosso país. “Os sucessivos governos têm prometido resolver esse problema mas começam sempre pelos amigos. Os amigos têm sempre emprego. Tudo aponta para que nada melhore, até porque, pelo que vou lendo à distância do oceano, me parece que as empresas continuarem a apostar forte nos despedimentos”, afirma.