Opinião – Os médicos também se abatem, a dignidade, não

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HERNANI CANICO LUIS CARREGA

Médicos e outros profissionais de saúde, além de representantes de Organizações Não Governamentais pereceram na queda do avião na Ucrânia, num acto criminoso, tal como aconteceu a outros cidadãos que tinham o direito à vida.

Os médicos são aqueles que salvam vidas, reduzem o sofrimento humano, consolam na doença, tratam o corpo e a mente, investigam o conhecimento, cuidam das pessoas como pessoas, têm vida.

Os médicos não são aqueles para os quais a vida só tem valor em função dos próprios interesses, que provocam dor e destruição, que se servem da doença como manobra de pressão, que tratam da carteira em prejuízo dos frágeis, que subvertem a ciência, que cuidam das pessoas em função do IRS, que a sua vida seja a morte.

Por isso, os médicos e os activistas da ciência e da solidariedade participam em eventos nacionais e internacionais, em partilha de experiências, demonstração da inovação e aquisição de conhecimento útil.

O mundo sofre com a SIDA, entre outras doenças da civilização, principalmente os fragilizados em países desenvolvidos ou colonizados pela ignorância e interesses económicos.

Em Portugal, os comentaristas considerados opinion-makers, por vezes de algibeira, apreciam, tergiversam, auto-bajulam-se, dissertando enjoativamente sobre as diatribes bancárias e não esclarecendo as consequências futuras sobre o cidadão e a sua impotência face aos senhores para quem trocos são milhões.

Ainda em Portugal, os médicos, de forma generalizada, são suspeitos de tudo e mais alguma coisa, em capas de jornais que vendem até a alma, com fama de passeatas e corrupção, banhos de mar e insolação, congressos de simulação. Como se fossem banqueiros de ocasião, políticos de pacotilha, aldrabões de profissão.

A morte de médicos, investigadores, técnicos de saúde, activistas contra a SIDA e funcionários da Organização Mundial de Saúde na queda do avião da Malaysia Airways na Ucrânia é uma perda para a humanidade, a ciência e o mundo sério.

Mas não se perdeu a dignidade daqueles que, mesmo vilipendiados, continuam diligentemente a exercer o seu mister, a demonstrar as suas convicções, a praticar a acção humanitária.

Aqueles que, mesmo com cortes nos salários, falta de progressão na carreira de serviço público a que têm direito, encerramento de serviços estruturados e exemplares em hospitais, abandono dos serviços de proximidade em atendimento agudo, não perdem a sua dignidade.

Os médicos não merecem ser qualificados por aquilo que outros como responsáveis da saúde e opinião dizem que são, e não ser respeitados pelo que são, de facto, com dignidade.

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