Opinião – Contar os dias

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Ricardo Castanheira

Ricardo Castanheira

Preparo-me para escrever umas linhas sobre a condição de emigrante. Ao mesmo tempo, descubro por mão amiga um projeto musical sublime, feito em Coimbra (“Palavra de Mulher” de Sofia Vitória e Luís Figueiredo), com base em músicas de Chico Buarque.

Ora, nada mais oportuno: a minha Coimbra a cantar uma parte importante da cultura brasileira, a minha atual circunstância. Emocionei-me. Estar emigrado é isto. Simplesmente. Muitas emoções.

Passamos a ter do nosso país uma visão diferente. Mais apaixonada, menos racional. Mais contemplativa e condescendente. Onde antes só observávamos defeitos agora achamos que há coisas piores no Mundo. Simples, assim.

Os sentidos à flor da pele. A memória é uma constante e a saudade realmente existe. Pode parecer patético, mas um robalo escalado ou umas sardinhas assadas valeriam ouro por estas bandas. Já nem falo de uns caracóis ou do arroz de lingueirão. Preciosidades. Resta-nos a imaginação.

O calendário anual passa a ter nova organização. Já não há 12 meses, mas apenas um: o das férias em casa, com família e Amigos. É uma espécie de contagem regressiva o tempo inteiro.

De novo, pode parecer pieguice mas não é. Certo que o país está em crise e as más notícias abundam, mas não há, quando estamos fora, orgulho maior – acreditem! – que escutar (e são muitas as ocasiões): “estive em Portugal e é lindo!”, “que comida maravilhosa”, “os portugueses são muito simpáticos”, “adoro as vossas praias”; “o fado arrepia-me”; “sonhei com pasteis de Belém”, etc etc. São as pequenas coisas que fazem a diferença no dia-a-dia de quem vive longe de Portugal.

A emigração mudou e vai mudar o país. Hoje estão a sair os melhores, sem motivação política, mas atrás de melhores oportunidades; esperemos que um dia voltem para ajudar a construir um país novo.

Acabo de ler que o Relatório da Emigração, apresentado esta semana, anuncia 2,3 Milhões de portugueses emigrados. Quase um quarto da população. O governo não sabe e não quer saber como lidar com isto. Mas a oportunidade é imensa. Num tempo global onde tudo assenta em redes estratégicas, estamos à espera do quê?..

E faltam apenas 2 dias. Portugal à vista!

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