Opinão – O país da Alice

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Marisa Matias

Marisa Matias

 

Um sobressalto permanente. É assim que tem sido de ameaça em ameaça e agora na promessa de concretização. O ministro da Educação já anunciou que há 311 escolas que têm de fechar no país. Diz que tem de haver uma reorganização, que tem de haver mais eficiência na gestão dos fundos públicos e assim se decreta que a escola pública encolhe e que a igualdade de oportunidades não é para todos.

O país de Nuno Crato e deste governo é um país cada vez mais desigual e onde a coesão territorial é cada vez mais uma miragem. Ao contrário do que é suposto, a escola pública deixa de ser um direito independentemente do sítio onde se vive. É, aliás, precisamente onde mais é preciso que o governo decide “reorganizar”. Um a um, vão-se fechando os serviços públicos no interior do país. Depois dos correios, da repartição de finanças, do centro de saúde, lá vem a proposta de fechar também a escola. Pouco importa quantas horas se tenha de fazer de caminho para ir à escola, pouco importa se os pais e as mães têm condições, pouco importa que não haja alternativa. Este governo auto-incumbiu-se de acabar com a escola pública e está a procurar fazê-lo com êxito.

Mas este governo está a ir mais longe e decidiu abandonar de vez o papel redistributivo do Estado. Nunca se pagou tantos impostos em Portugal e o retorno para a educação e para a saúde é cada vez menor. É este país “pós-troika”. Um país sem encanto.
Uma das histórias que povoou muitas das nossas infâncias foi a da “Alice no país das maravilhas”, uma menina que caiu na toca de um coelho.

A diferença é que a Alice da história descobriu um mundo estranho, mas que continuava a ter encanto. A semelhança é que, tal como para muitos dos que aqui vivem, ela não conseguia encontrar o caminho de saída. Quando perguntou ao gato que ria onde ficava a saída, o gato respondeu: “depende”. A Alice retorquiu: “depende de quê?”. O gato concluiu: “Depende de para onde queres ir”.
Este nosso país já nem sequer é estranho. O governo sabe para onde quer ir, escolheu um caminho de saída que passa pela destruição do Estado social, da escola pública. Esta não é seguramente a única saída, mas outra qualquer que seja tem de estar nas nossas mãos.

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