Opinião – O PS tem um problema cabeludo

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Paulo Valério

Paulo Valério

Eu não sei bem se já estavam agendadas, se tinham que ser marcadas ou se alguém resolveu convocá-las para setembro apenas porque sim. O que eu sei é que as próximas eleições para as comissões políticas distritais do PS são uma enormidade que, em consciência, só pode ser caucionada por quem queira, de vez, implodir o PS.

Sei, sim, que há um discurso algures entre o cínico e o ingénuo que ventila a ideia de que tudo isto é muito normal e de que no PS sempre se viveram ferozes combates, sem que os socialistas deixassem de cantar a Internacional de braço dado e sem que o PS saísse “mais forte”. Talvez seja essa a versão dos “vencedores”, mas não é verdade, como todos sabemos. Há um largo histórico de traições, agressões e ódios incompatíveis, por si só, com a expressão “camarada” e, ainda assim, tudo coisas que, ao pé do que aí vem, se confundirão facilmente com palmadinhas de amor.

Sejamos claros: as eleições primárias convocadas para setembro são um remédio que, se curar em três meses um secretário-geral ferido de morte, terá tantos efeitos secundários que o PS, por seu turno, poderá não sobreviver. Juntar a isto duas dezenas de eleições distritais, ainda por cima condenadas a reverberar o confronto Costa-Seguro, só faz sentido na cabeça de um louco, ou de quem ache que pode lucrar alguma coisa com o caos. O MacGyver costumava usar esse tipo de manobras de diversão para vencer exércitos de inimigos, mas, na vida real, é preciso mais do que um canivete suíço para sair da maior parte das enrascadas.

Quem acha que a campanha para as primárias está a subir de tom e se choca, por exemplo, com o inofensivo João Soares a usar a expressão “golpe” para qualificar a iniciativa de António Costa, saiba que há por esse país fora quem diga e faça coisas que fariam corar a face de intrépidos guerrilheiros como Eurico Brilhante Dias. Não o farão por causa de Costa ou Seguro, para quem se estão, verdadeiramente, nas tintas. Mas fá-lo-ão, por exemplo, sempre que estiver em causa aquele currículo do filho que anda aos trambolhões na mala do carro de alguém, vai para meses. E isto é, talvez, o essencial do problema.

Apesar de tudo (um apesar muito sublinhado), costumava existir um cordão sanitário entre as eleições que escolhiam candidatos a primeiro-ministro e aquelas que se destinavam a escolher lideranças distritais. Dito de outra forma, arrisco dizer que a mistura de eleições distritais com primárias poderá lançar estas, do plano do erotismo mais atrevido, para a pornografia absoluta. E eu, que tenho mais de dezoito anos de militância, posso assegurar-vos que esse será um problema cabeludo.

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