“Coimbra é o logradouro de dois prédios voltados entre si: Lisboa e Porto”

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José Miguel Júdice. FOTO CARLOS JORGE MONTEIRO

José Miguel Júdice. FOTO CARLOS JORGE MONTEIRO

Iniciativa da Fundação Inês de Castro, o VI Festival das Artes, sob o tema “Património”, chega hoje ao fim. Ao DIÁRIO AS BEIRAS, José Miguel Júdice, diretor do festival, explicou as razões do sucesso, lamentando, uma vez mais, que a região Centro continue a ser tratada pelo poder político “como um logradouro”, uma “zona esquecida” em termos de apoios para a área cultural.

Como correu esta sexta edição do Festival das Artes?

Não sou imparcial, mas acho que correu muitíssimo bem. Os objetivos essenciais que tínhamos em vista foram claramente alcançados. O principal objetivo é que a qualidade nunca baixe, que o público – as pessoas não só de Coimbra, mas sobretudo as da cidade que gostam de cultura – continue a acreditar, a apostar e a ser o principal propagandista do festival. Em terceiro lugar, que os patrocinadores, os mecenas, aqueles que nos ajudam, fiquem encantados, porque isso permite que continuem a apoiar o festival nos próximos anos e até que atraiam outros. Se tivermos mais mecenas conseguiremos, evidentemente, fazer um programa cada vez melhor.

O poder central continua sem apoiar o festival?

Continua o não-apoio. Isto é um problema real: a região Centro e Coimbra são as traseiras de dois prédios: se vir um prédio virado para um lado e outro prédio virado para outro lado, a zona entre os dois prédios é, muitas vezes, uma zona abandonada. É uma zona a que ninguém dá muita importância. Nós temos dois prédios, que é a zona de Lisboa e a zona do Porto, e entre os dois prédios há um logradouro que é tratado pelo poder político como tal em matéria cultural. Isto é, quando se analisam as hipóteses de apoios, sejam eles quais forem, esta zona é sempre esquecida. Felizmente temos algum apoio da Direção Regional de Cultura do Centro – algum, que é muito, para as poucas condições que tem a Direção Regional da Cultura – mas é difícil convencer o poder central. Mais uma vez candidatámo-nos aos apoios, que é uma burocracia que nos faz perder dezenas e dezenas de horas, tempo esse que faz muita falta porque somos uma equipa com apenas uma pessoa e alguns voluntários. No final não tivemos apoio nenhum. Portanto, provavelmente, vamos mesmo desistir de pedir apoio. Não vale a pena estarmos a gastar energias para que, no final, esse esforço seja completamente inútil. Mas, às vezes, as dificuldades aguçam o engenho e os apoios da sociedade civil são muito mais importantes do que o apoio do Estado.

A cidade tem retribuído esse esforço?

A cidade tem retribuído por excesso. Com franqueza, nunca pensámos que a adesão da cidade fosse tão grande. No sábado andei a passear na baixinha e levava desdobráveis com o programa. E não houve ninguém que não aceitasse ficar lá com os programas para dar às pessoas e toda a gente teve palavras de muito aplauso e apoio ao que estamos a fazer. Mas a prova mais evidente da adesão da cidade é a quantidade imensa de pessoas que vem a todos os eventos da fundação. Coimbra, se lhe derem qualidade, responde com qualidade e, de facto, eu sinto que o festival é o festival da cidade. É um festival que a cidade toda quer continuar a apoiar. E o tema do próximo ano será um bom momento para mostrar que assim é.

A festa?
Sim, para o ano há festa.

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