Opinião – Ontem, hoje e amanhã

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Paulo Valério

Paulo Valério

A petição que pretende uma reestruturação “honrada e responsável” da dívida portuguesa ultrapassou os 20.000 subscritores em meia dúzia de dias. Tem piada, porque ainda há pouco tempo pronunciar as palavras “reestruturação” e “dívida” na mesma frase sujeitava o autor às acusações mais diversas, a começar por “irresponsável” e a terminar em “caloteiro”. Mas a petição em causa sugere uma reestruturação “honrada” e “responsável” da dívida e, assim sendo, está tudo bem. Na prática, parece que Portugal deve reestruturar a sua dívida como o Presidente Clinton fumava a sua marijuana: sem inalar.

Nada disto tem muita importância e, na verdade, o que interessa é assinalar como a opinião – mesmo a dos mais ilustres – evolui do zénite ao nadir como se nada fosse. Ontem, reestruturar era uma ideia do demo; hoje é um atrevimento honrado; amanhã será o cálice da salvação. Uma coisa e o seu contrário são perfeitamente admissíveis num lapso de tempo relativamente curto, o que nos coloca, enquanto país, ao nível de um catavento, no que respeita à direção e sentido que tomamos.

A reestruturação da dívida, de que eu sou e sempre fui um perigoso apoiante, não tem nada a ver com moralidade ou honradez. As taxas de juro que os mercados nos impõem e um velho com fome à espera da morte também não.

A nossa dívida, infelizmente, terá que ser reestruturada, porque não temos, nem teremos, dinheiro para a pagar. E porque a alternativa é sujeitarmos à miséria e à escravidão uma nação inteira.

Os moralistas do costume bem podem fazer de conta que vamos pagar a dívida, custe o que custar; ou que a vamos reestruturar, honradamente. Eu aposto que, a bem ou a mal, a reestruturação da dívida é um caso arrumado e isso – como quase tudo, aliás – não está dependente de qualquer debate no parlamento.

 

P.S. – Eu também subscrevi a petição.

 

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