Opinião – A praxe, a festa e a tradição

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Maria Manuel Leitão Marques

Maria Manuel Leitão Marques

1. A praxe

Pela pior causa possível, discutiu-se pela primeira vez publicamente em todos os meios de comunicação social a praxe, a sua origem e fundamentos.

Talvez pela proximidade de acontecimentos dolorosos, nem sempre a discussão foi suficientemente serena entre os prós e os contras confrontados. Ou melhor, sobre as causas que tornam praxe relativamente popular. Destacaram-se e bem os aspetos por demais indignos, ridículos e humilhantes, que todos podemos observar à porta das faculdades em certas ocasiões. Talvez se tenha exagerado no seu caráter cominatório. O que não ouvi foi ligar a praxe à festa. Essa ligação pode ser a explicação da sua sobrevivência.

 

2. A festa

Praxe e festa coexistem nos mesmos períodos e uma prolonga-se na outra muitas vezes. Compõem ambas uma tradição. Em Coimbra, desapareceram juntas em 1969 e voltaram juntas na década de oitenta. Não experimentei nenhuma delas. Mas o certo é que para o espanto de muitos, mais do que a praxe, cujos adeptos não são generalizados, a festa regressou em grande, como nunca se tivesse dissipado. Nada renovada então e assim se mantendo atualmente, por cá continua cheia de sucesso nas latadas ou na queima da fitas anuais. Goste-se ou não do género, ao contrário da praxe, da festa não vem mal ao mundo e à Universidade. Pelo que me é dado observar, criam-se até laços que muitas vezes se mantêm no futuro.

 

3. A tradição

Com a festa retomou-se com mais força a tradição. Os encontros dos antigos alunos, os jantares dos que foram no mesmo carro, atuaram no mesmo teatro, cantaram no mesmo coro, tocaram na mesma tuna, dançaram no mesmo grupo, fizeram parte da mesma direção, etc. Uma saudade da festa que se renova pela vida fora. Contudo, o regresso dos alumni à sua Universidade não deveria ser apenas uma tradição de reviver o passado em festa em Coimbra. A ligação ganharia em ser mais frequente.

“Gente da casa”, foi o título expressivo que a Faculdade de Economia deu ao ciclo de conferências dos seus antigos alunos espalhados por esse mundo fora. Aceitam o convite e regressam com gosto para contar percursos profissionais aos que cá estão. Os alumni são para a Universidade um capital. Propiciam ligações, trazem outro conhecimento. A Universidade também pode ser para eles um lugar de valorização permanente, em condições até privilegiadas. Se assim for, a festa e a tradição, neste sentido mais alargado, serão um fator de diferenciação positiva para uma Universidade que as tem enraizadas na sua história. É o caso da nossa, a de Coimbra.

 

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