Opinião – Dar a César o que é de César

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Aires DinizAires Antnes Diniz

Andam por aí economistas que transformam a economia em qualquer coisa elástica na sua moralidade, e sempre com implicações desumanas na vida social. Alguns irritam toda a sociedade e ainda mais quando se tornam também vendilhões do templo de Deus, confundindo tudo no seu arengar, impondo até a obrigação de muitos passarem fome para resgatar empresários que, por má cabeça, lançaram as empresas de que eram responsáveis na falência. Argumentam e coagem psicologicamente os mais frágeis psicologicamente a fazerem cortes nos seus consumos mínimos, convencendo-os de que ganham e gastam demais. Repetem estes Césares que falam em nome de Deus, o mesmo que fez “O bispo conde de Coimbra (que) dá o supercilioso rebate, lançando a excomunhão sobre quantas filarmónicas toquem lutuosamente nos enterros civis”1.

Era o tempo da reconquista cristã da Pátria Portuguesa que estava associada à luta clerical para impor o enterro religioso. Foi o que nos anos seguintes se estendeu a quase todas as manifestações religiosas, como pude ver ao estudar a ação pastoral de D. Agostinho de Jesus e Sousa, que foi primeiramente bispo de Lamego, transitando depois para o Bispado do Porto. Não admira que muitos associem Nossa Senhora de Fátima a este processo de regeneração da Imagem da Igreja Católica.

Por outro lado, nos últimos anos temos assistido à degradação da imagem da profissão de economista, só por estar demasiado associada à continuidade abstrusa da imposição da miséria a cada vez mais largas camadas da sociedade. De facto, nos últimos anos assistimos ao papel desleixado de alguns economistas de topo como obreiros do descalabro do sistema bancário, uns como reguladores do sistema e outros como banqueiros inábeis. Inventaram para isso competências que não tinham ou porque lhes faltou coragem para disciplinar o que estava a acontecer de errado nos bancos, que deviam controlar e mantiveram em funcionamento apesar de ineficientes.

Contrariaram assim a ideia de que o sistema capitalista proporciona bens e serviços com a melhor qualidade e preço através da competição entre empresas, expulsando as mal geridas. Deixou-se assim de acreditar que a economia como ciência serve para melhorar a vida das pessoas e criar riqueza de forma sustentada e otimizada.

É o que não acontece agora pois vemos todos os dias fecharem empresas bem geridas e necessárias, que viram o seu mercado reduzir por força da “austeridade” apresentada como remédio pelos Césares, que andam por aí para salvar a economia, invocando o nome de Deus quando calha ou convém. Mas, na verdade, o que querem é salvar a má finança, criando desemprego e aumentando a emigração que despovoa o país.

E agora há que colocar o problema da economia no seu verdadeiro contexto e objetivo, tal como o queria John Maynard Keynes, o Economista, que muitos economistas estudaram, que é: Dar a todos uma vida digna e boa.

 

1 Bernardino Machado – Investida clerical nos Tribunais, Imprimerie Solson, Paris, s/data

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