Um dia com o presidente da Câmara de Coimbra

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O DIÁRIO AS BEIRAS acompanhou o presidente da Câmara de Coimbra e conta-lhe, minuto a minuto, os passos de um político que conhece bem a “casa” e que, agora, inicia um novo ciclo da sua vida autárquica.

Pouco passa das oito da manhã. Manuel Machado beija a sua companheira de sempre, a médica obstetra Marta Brinca. sai de casa, no Picoto dos Barbados, com pressa. Ainda assim, tem tempo para recolher uma folha de canforeira – o quintal da casa tem muitos exemplares exóticos – e afagar o cachorro que encontrou, abandonado e cego de um olho, na Feira dos 23. Estava-se em plena campanha eleitoral e, por isso, logo alguém sugeriu o nome de “cãodidato”…

Manuel Machado desloca-se ainda no seu carro pessoal. Quem conduz é uma jovem, Dora Duarte, que já tomou conta do volante em toda a campanha eleitoral. O encontro com o DIÁRIO AS BEIRAS está marcado para as 08H30, no Atrium Solum. Aqui, entre um café uma torrada, fala-se dobre os primeiros dias neste seu regresso à vida autárquica e logo aproveita para revelar uma das suas características: o profundo conhecimento da história da cidade, em geral, e da câmara municipal, em particular.

Uma rotunda embargada

A viagem até à câmara “passa” pela rotunda sobre a circular externa, ao cimo da avenida Elísio de Moura. “Dei conta do início das obras, na quarta-feira da semana passada, e logo preveni o presidente da câmara. Resolveram continuar, retirando a relva e abrindo um buraco”. Manuel Machado conhece a lei, sabe que a obra não tem “suficiente proteção legal”, pelo que, logo depois de tomar posse, mandou embargá-la.

Chegados à Praça 8 de Maio, o presidente não regateia cumprimentos aos muitos conimbricenses que o conhecem e que o abordam. A hora, porém, é de rumar ao gabinete.

O computador portátil pessoal, os seus dois telemóveis e a sua agenda é tudo quanto Manuel Machado traz para a câmara. Já se percebeu que o presidente do Município de Coimbra encontrou vazio o seu espaçoso e frio gabinete, na Praça 8 de Maio. Não faz mal. O trabalho espera e é preciso arregaçar mangas.

Já passa das nove e meia da manhã e o dia de Manuel Machado na câmara começa invulgarmente tarde. A culpa é do DIÁRIO AS BEIRAS que vai acompanhar boa parte da jornada de trabalho.

Urgência? É na Praça Mota Pinto

O gabinete, para Machado, é o espaço de todas as iniciativas e de todas as decisões. Na câmara, ninguém faz o que quer que seja de importante sem que ele saiba. E mais, sem que ele autorize. Urgências? É na Praça Mota Pinto, graceja.

Há, porém, prioridades. Por exemplo, o elevador do mercado, parado desde abril deste ano. Por isso, há que saber por que não funciona e quem tem responsabilidades. Dois ou três telefonemas chegam para o presidente perceber que o ascensor que ele instalou, há mais de uma década, já tinha problemas quando o seu antecessor decidiu, em setembro de 2012, fazer o equipamento deixar a tutela dos SMTUC e passar para a da câmara.

“O elevador foi concebido para ser parte integrante do sistema de mobilidade municipal”, diz Manuel Machado. O passo imediato é, então, o de fazer com que o equipamento regresse à jurisdição dos Serviços Municipalizados de Transportes, sendo, nomeadamente, abrangido pelos títulos de transportes e passes sociais.

E os processos urgentes? Pois, há alguns, mas quem define a urgência não são os serviços ou, sequer, os vereadores.

Importante, por exemplo, é a desratização da cidade. Na secretária, Manuel Machado tem um processo de ajuste direto em que foi detetado um problema qualquer, pelo que a proposta dos serviços é a de não adjudicação. Muito bem, corrija-se o procedimento concursal e adjudique-se, “com urgência, porque esta é uma questão de saúde pública”.

Civitas e um jogo de andebol

Urgente, também, é fazer o ponto de situação da participação de Coimbra no programa europeu de mobilidade urbana Civitas. É que a câmara é convidada para uma  reunião, a 29 de outubro, em Madrid, e Manuel Machado não recebeu qualquer informação quer do responsável pelo programa – um engenheiro dos SMTUC – quer do elemento “operacional” – um quadro que transitou dos SMTUC para dar apoio ao vereador Paulo Leitão mas que está de licença de paternidade…

Urgente, ainda, é o que dois responsáveis da área do desporto – o chefe de divisão e o diretor do departamento – esperam ver resolvido esta manhã. Trata-se da assinatura do presidente da câmara, indispensável para viabilizar a organização, a 27 de outubro [amanhã, domingo], de um jogo internacional de andebol feminino. Aqui, Manuel Machado desespera. O processo iniciou-se em junho mas só tem despacho de Barbosa de Melo a 11 de outubro. E o contrato com a federação da modalidade nem sequer está assinado.

Em dois dias, a autarquia vai ter de garantir uma logística que ascende, pelo menos, aos 12 mil euros. “Nestas alturas, o peso institucional do presidente da câmara municipal sobrepõe-se à vontade do cidadão”, desabafa Manuel Machado. Por isso, dá instruções para que se resolva o imbróglio.

Onde param os computadores?

Ao longo da manhã, o autarca pesquisa o seu correio eletrónico pessoal e o repórter insiste: Onde param os computadores da Presidência? Os de mesa foram retirados, “para limpeza”, e os portáteis foram pura e simplesmente levados para casa. Por quem? Pois, por muitos dos elementos que integravam o staff político do presidente e dos vereadores. Curiosamente, a proposta partiu do responsável da Informática, na câmara, tendo sido aprovada pelo presidente, Barbosa de Melo, já bem depois das eleições.

Manuel Machado não quer empolar o assunto. Mas vai dizendo que, nos termos da lei, as delegações de competências cessam no dia das eleições, o que torna o ato “insuficientemente” dotado de proteção legal. “Não quero, de todo, gastar tempo nem criar incidente, mas os computadores portáteis vão ter de ser devolvidos”.

A meio da manhã, a câmara enche-se de fardas. É a receção aos militares que assinalam, em Coimbra, o Dia do Patrono do Exército, dom Afonso Henriques. No final, Manuel Machado lembra-se que há, no edifício, uma ligação direta a Santa Cruz. A passagem, porém, está “ocupada” com escadotes, restos de materiais de construção e entulho…

A ligação ao mosteiro de Santa Cruz é o pretexto para uma visita à “Sala da Cidade”. O espaço, outrora refeitório dos frades crúzios, está hoje fechado e a feder de humidade. Cá fora, repousam caixas e caixas com os boletins de voto das últimas eleições, à espera de ordem judicial para serem destruídos. No interior, subsiste o cenário/instalação que António Barros concebeu para uma extraordinária exposição de arte sacra, comissariada por Pedro Dias, aquando de Coimbra Capital Nacional da Cultura.

Embalado, Manuel Machado sobe a escadaria interior de acesso à antiga Biblioteca Municipal. Aqui – um varandim sobranceiro ao claustro de Santa Cruz, onde chove e onde se vislumbram vidros partidos – funciona o arquivo do departamento de obras municipais.

Uma capela esburacada

A certa altura, o presidente entra numa dependência interior e aponta para o teto, onde paineis de notaveis frescos surgem cobertos (e até furados) por cabos elétricos. Calmo, chama a responsável e pede: “Libertem este espaço o mais rápido possível”. Depois vem a explicação: “Esta era a capela onde os meninos de Palhavã, que estavam detidos ali no antigo celeiro do mosteiro (hoje a esquadra da PSP), vinham ouvir a missa da igreja”.

É quase meio-dia e a manhã ainda há de ter dois sobressaltos – telefonemas da Proteção Civil a dar conta de uma derrocada na praia fluvial e de um cabo elétrico à solta no Quebra Costas. A chuva é muita, nesta quinta-feira. Tanta que até escorre no gabinete do presidente da câmara. Entretanto, um problema de um carimbo lá consegue ser resolvido, apesar do atraso de um designer da câmara.

Por fim, há tempo para chamar a responsável pelo apoio às freguesias e dizer-lhe que este serviço vai ficar na dependência dodepartamento de obras e gestão de infraestruturas municipais. “Eu não gosto e não quero tutelas difusas”, remata Manuel Machado.

Almoço no Cantinho do Reis

Já passa das 13H30. Hora de almoço que, para não variar, vai ser no Cantinho do Reis. Com Manuel Machado seguem para o Terreiro da Erva os vereadores Carlos Cidade e Carina Gomes, o chefe de gabinete Nuno Mateus, a secretária do gabinete Zara Ilieva, o assessor de imprensa e a motorista.

O restaurante está cheio mas José Reis resolve o problema num ápice. E, enquanto se avia a travessa de petinga e a panela de sopa da pedra, há ainda tempo para lembrar alguns compromissos da campanha eleitoral. Há, todavia, um deles – plantar três árvores por cada voto acima dos 30 mil – que a vontade popular descartou. “Não faz mal, vou cumprir na mesma”, garante Machado, que quer lançar uma campanha de plantação de 1.500 árvores, mas com um detalhe: em vez das que abundam na cidade e que libertam pólenes, causando muitas alergias, vai apostar em espécies diferentes, como por exemplo o sobreiro e o azevinho.

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