Opinião – Os desafios da Faculdade de Letras

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creisCarlos Reis

A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) está em período eleitoral. Transcorrido o tempo que levou à eleição da Assembleia da Faculdade, trata-se agora de escolher um novo diretor. Apoiante que fui da lista vencedora, faço desde já uma declaração de interesses: acredito que no respetivo programa estão bem equilibrados o vigor de gente responsável com um propósito claro de alterar aquilo que tem que ser alterado.

Não estamos em tempos de rotineira normalidade. Às circunstâncias adversas que vivemos juntam-se os efeitos perversos de desvios e de omissões que a FLUC conheceu nos últimos anos. Deles não falarei agora, porque durante algum tempo estive ausente – e também porque não é meu hábito criticar quem já não está no poder. Limito-me a apontar desafios que a FLUC não pode ignorar, sob pena de a sua existência ser posta em causa.

Primeiro desafio: a FLUC deve aprofundar a sua condição de Escola em que se conjugam o estudo e a investigação de matérias a que chamarei identitárias (aquelas em que reconhecemos a nossa matriz cultural e histórica: a Literatura, a História, a Língua Portuguesa, a Filosofia, as Línguas Clássicas, etc.) com disciplinas que incutem uma outra dimensão e significado ao termo Humanidades: o Jornalismo, as Artes, as linguagens do Digital, etc. Para além disso, a FLUC não pode ignorar o que está fora das suas portas: deve interagir com outras Escolas e unidades de investigação que favoreçam o culto efetivo da interdisciplinaridade. O que não quer dizer que esta abertura seja, como às vezes acontece, rota de fuga para quem esquece a sua vinculação institucional.

Segundo desafio: a FLUC tem que saber responder ao estado de degradação das suas infraestruturas físicas e dos seus equipamentos. Em muitos aspetos, a FLUC é hoje um espaço inóspito e disfuncional, pouco acolhedor e incapaz de captar novos e melhores estudantes. A situação das bibliotecas da FLUC é, neste aspeto, um exemplo lamentável do que afirmo e custa a crer como foi possível chegar-se ao ponto a que se chegou.

Terceiro desafio: a FLUC apresenta hoje uma oferta curricular escandalosamente desmesurada, em muitos aspetos sem justificação do ponto de vista do que deve ser a responsabilidade social de uma instituição universitária. Os números – os de unidades curriculares e os de alunos que em muitas delas (não) se inscrevem – são tão expressivos que a sua divulgação fora das paredes da UC geraria perplexidade.

Não é pouca coisa. Se a isto juntarmos a urgência de uma renovação geracional do corpo docente (uma urgência que não afeta apenas a FLUC, mas toda a universidade portuguesa), ter-se-á uma ideia da magnitude do que tem que ser feito.

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