Nestes últimos anos têm coexistido duas visões distintas do Serviço Nacional de Saúde.
Por um lado, aquela que todos nós conhecemos e que tem sido o motivo de satisfação em Portugal e de elogios no resto do mundo e, por outro lado, aquela que está a ser construída pelo Dr. Paulo Macedo, atual Ministro da Saúde.Infelizmente a 2.ª está gradualmente a destruir a 1.ª, já que têm objectivos antagónicos.
O SNS, criado em 1979, tem mantido uma forte coerência apesar das diferentes alterações e transformações necessárias de que tem sido alvo.
Esta constatação não é, em si, objeto de nenhuma polémica, já que o SNS deve ter a capacidade de se adaptar à evolução da sociedade, integrar a modernização dos meios que tem a sua disposição e incorporar a evolução científica permanente.
O SNS deve ser capaz de oferecer, a cada momento, a resposta mais adequada.
Mas o que é verdadeiramente preocupante é o aparecimento de um paradigma novo decorrente da adulteração imposta ao SNS e ao espírito de universalidade e equidade que lhe está subjacente.
Hoje, o SNS deixou de estar, principalmente, ao serviço da população. O doente deixou de ser o ponto central de um sistema criado especificamente para ele. A preocupação maior já não é a acessibilidade à prestação de cuidados de saúde, já não é o desenvolvimento das respostas mais adequadas perante a doença, já não é a aposta em recursos técnicos e humanos qualificados.
O orçamento destinado ao SNS serve, neste momento, para resolver as consequências de políticas erradas e incompetentes incapazes de responder à grave crise que atravessamos.
Hoje, o SNS está ao serviço do Ministério das Finanças.
O estrangulamento dos serviços tem como objectivo colmatar as ineficiências financeiras consequentes da má gestão de outros sectores da sociedade.
Hipocritamente, tem sido desenvolvida a ideia de um SNS despesista até mesmo responsável por parte da crise financeira e económica.
A realidade é que vivemos num país onde o fármaco indicado não é um medicamento de qualidade mas sim o mais barato, um bom serviço hospitalar não é aquele que dá uma resposta eficiente mas sim aquele que sobrevive subfinanciado, um bom profissional não é um profissional competente, interessado e cumpridor mas sim um profissional obrigado a emigrar, a diferenciação técnica dos profissionais deixou de ser valorizada aplicando-se o critério da mão de obra mais barata mesmo quando tal contraria as boas práticas.
Este balanço é perverso e contribui para a progressiva destruição do sistema público de saúde.
Há tempos, alguém dizia que o hospital ideal seria um hospital sem doentes.
Para o Dr. Paulo Macedo, um país ideal é um país sem SNS, sem médicos, sem enfermeiros, sem profissionais de saúde e sem hospitais públicos. Um país onde o Estado deixa de ter qualquer responsabilidade na Saúde.
Infelizmente este processo, que agora culmina, começou há mais de uma década e foi executado por vários responsáveis políticos.
Cabe-nos a todos defender o sistema de saúde público!
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