Eu sei, nós sabemos que vivemos uma crise profunda. Crise financeira, crise económica, crise política. Mas então toda esta crise, instalada no país, vai ao ponto de se haver esgotado toda a dignidade humana – que é, sempre, política? Recuso-me a acreditá-lo.
Ora, na vacatura de um rumo de confiança, respeito, motivação,logo surge a ideia de se recorrer a habilidades e expedientes, pelo poder político, com o intuito de nos enganar, como se fossemos ingénuos. Não sei de qualquer política séria com tais características. É o caso da actual situação? Evidentemente, sim.
Por outro lado eu diria o seguinte: uma coisa é a luta partidária que se destina a realizar um projecto que se enquadra num plano de desenvolvimento, isto é, um objectivo que traduz uma iniciativa governativa e corre um risco – é da essência de qualquer política poder vir a falhar, sendo que: uma política só será correcta se obtiver sucesso; o mesmo é dizer que jamais se deverá tentar uma política sobre a qual tenhamos a certeza antecipada de que falhará.
Precisamente. Dado o caos político com que estamos confrontados, julgo justo e exacto afirmar que, sem prejuízo das convicções políticas de cada um, é o tempo de compreendermos, aperceber-mo-nos do que se está a passar, enredados que estamos num logro colossal, e evitarmos que se perpetue.
Repito, por isso, que me parece conveniente examinar-se, amplamente, o problema da confiança, do respeito, da Motivação, que devem estar ligados à “coisa pública”, e isto com a maior urgência para não nos encontrarmos perante realidades novas e porventura irreversíveis. Assim:
a) Troika. Eivada, exclusivamente, de espírito de monopólio orçamental, a sua “obra” sempre esteve errada. Era previsível (sempre o disse, neste Diário, desde a primeira hora) porque não se via, no memorando, alguma largueza de “vistas sociais”, aquela superioridade de ânimo (confiança), aquela generosidade de motivação que, sem esta “argamassa”, dita fracasso.
b) Pós-Troika. Outra qualquer coisa do género, mas com regras sensatas, será, terá que ser bem-vinda. É que iludir-mo-nos com a tão apregoada ida aos “mercados” é atacar o problema, adicionando um problema maior. Permito-me insistir neste ponto. O problema parece-me de muito interesse porque, para manter este princípio, temos de olhar para a sua execução e consequências. Se atendermos aos dados macro, sendo irrealista pensar que se alterarão, substancialmente, em sentido positivo num ano – 127% do PIB em dívida soberana, desemprego na casa dos 20%, 99 % do crédito bancário absorvido por 1.000 das 367.000 empresas – a cotação da República continuará a ser considerada “lixo” pelas agências de notação o que, pela certa, toda e qualquer colocação de títulos de divida no “mercado aberto” não se realizará sem preço de juros altíssimos.
De resto, portanto, este discurso da ida ao “mercados” sem o “chapéu” da troika, ou coisa que a substitua, só pode ser considerada uma política demagógica inconsiderada.
Em suma: Como a comunicação política dos partidos da área da governação (PS, PSD) sempre defendi a bipolarização político-partidária para as eleições legislativas – é precária e difícil, ignoro se não dão por nada ou fingem não dar, e daí pensar não advirem estragos tão sérios: é essa a aparência imediata que dão ao eleitorado. Continuam errados. Não geram confiança, respeito, Motivação da sociedade em geral e, assim, não sairemos do pântano, pois é no pântano político que nos encontramos: pântano, pântano, pântano.