Opinião – A minha audiência com o Dom (II)

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GONÇALO CAPITÃO

Gonçalo Capitão

Termino hoje a minha crónica sobre o primeiro encontro que tive com o reggaeton, estilo musical tão característico da América Latina e comummente associado aos escalões mais baixos das sociedades que a compõem.

Tendo começado por uma amadora caracterização do género, deixo agora uma breve ideia do que foi o festival organizado pela Movistar, num Poliedro de Caracas (o recinto) que não encheu, ao invés do esperado, quer pela fama de insegurança – pelo menos neste caso, imerecida – quer pela crise que começa a afectar seriamente os venezuelanos.

A tarde fez o seu caminho para noite com notas dos artistas locais. A seu tempo, passaram pelo enorme palco montado no estacionamento do Poliedro Manu y Jota, Oscarcito – o autor de um eloquente “Reggaeton con Gusto” – e Los Cadillac’s, mais um duo do panorama “reggaetonesco” venezuelano, que decidiu aquecer o ambiente com temas como “Bon Bon”.

Contudo, ninguém tenha ilusões, todo este som era apenas a escadaria de pano vermelho por onde haveria de descer “El Rey”, Don Omar, que, aliás, parece ter encarnado o título ao aparecer impecavelmente trajado com fato e gravata (sublinho que não há nada menos usual no mundo do reggaeton, mais conhecido pelas fatiotas berrantes e pelo “desleixo” calculado tributário do Hip Hop e do Rap).

Ante o êxtase generalizado, começou o rol de êxitos do cantor porto-riquenho: “Dale Don Dale”, “Virtual Diva”, “Taboo” (a versão “régia” da brasileira “Lambada”) e, entre outros, o apoteótico “Danza Kuduro” que chama a atenção pela participação (que não no concerto) de Lucenzo. Ora bem, sendo que o dito colaborador e autor da versão inicial da música canta coisas como “Mexe Kuduro/ Balança que é uma loucura/ Morena vem ao meu lado/ Ninguém vai ficar parado”, importava ver quem era o rapaz que tão bem se expressa na língua de Camões…

O nosso Lucenzo é, nada mais, nada menos, o cidadão Luís Filipe Oliveira, nascido em Bragança e que, ignorado por muitos compatriotas, gravou com nomes grandes da música dançável como Don Omar, Pitbull e Sean Paul. A música mais conhecida na versão gravada com El Rey liderou a prestigiada tabela Billboard Latin Songs. Ou seja, goste-se ou não do estilo, há portugueses capazes de fazer tão bem como melhores do seu género…

Retomando e finalizando a narrativa, haveria a minha passagem pelo género de terminar com o dominicano Arcángel (leia-se “La Maravilla”), culpado pelos ensurdecedores gritos das adolescentes. Percebe-se que estamos perante um Justin Bieber do reggaeton, quer pela excitação causada, quer pelas letras.

Em suma, pode dizer-se que se presenciou um mundo à parte, com música muito mais audível do que o esperado e, sobretudo, com uma influência positiva derivada da sua globalização: as letras e a encenação estão hoje muito despojados do seu conteúdo sexual inicial, tendo sido aligeirados para melhor.

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