Fio de Prumo – Investimento

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LUIS PARREIRÃO

Luís Parreirão

O investimento é tema recorrente no debate público. Se deve ser público ou privado, se há, ou não, financiamento ao investimento, se a prioridade deve ser o investimento das grandes empresas ou das PMEs, se no interior se no litoral, se, se, se… Recentemente percebeu-se, até, que o investimento também é influenciado pelas condições meteorológicas. No caso, “adversamente influenciado”.

Muitas destas abordagens esquecem, deliberadamente, ou não, a questão essencial: tem Portugal – os seus cidadãos e os seus agentes económicos – o stock de capital necessário e adequado para fazer investimentos?

É vulgar dizer-se que aos portugueses falta uma cultura de investimento e de risco, o que é verdade. Mas não é menos verdade que lhes falta o capital necessário para poderem correr riscos.

Situação hoje especialmente agravada com as incertezas induzidas na nossa vida colectiva.

As famílias portuguesas que poderiam canalizar alguma da sua poupança para investimento – directamente ou através do mercado de capitais – certamente que, não sabendo se terão as reformas asseguradas, não sabendo se eles próprios ou os seus filhos terão emprego, não sabendo se os seus rendimentos não serão fortemente diminuídos, tenderão a não investir.

As empresas, confrontadas com ausência de mercado interno, com aumentos brutais do custo dos capitais e com créditos volumosos de difícil ou improvável cobrança, tenderão a reforçar as suas reservas de sobrevivência em detrimento da assunção de novos riscos.

Ou seja, a um país que nunca teve recursos de capital significativos, disponíveis para investir, sucede um país que, continuando a não ter recursos, tem incertezas absolutamente incompatíveis com o investimento.

Sei que não é fácil alterar esta situação e, sobretudo, este sentimento, mas pergunto-me se não seria possível tomar algumas medidas, simultaneamente emblemáticas e com materialidade, que ajudassem a inverter a situação.

Será que não será possível afectar uma das próximas transferências da “troika” ao pagamento aos credores do sector público?

Será que os bancos podem continuar a financiar-se junto do BCE aos preços conhecidos e a praticar spreads que superam, em mais de dez vezes, o preço a que compram o dinheiro?

Será que é possível continuar a pensar que o que está em causa nas nossas empresas é o financiamento, esquecendo as debilidades das suas estruturas de capital?

Será razoável continuarmos com um tecido empresarial atomizado sem criar um forte programa de estímulo a fusões e aquisições de empresas, tendo em vista a obtenção de escala?

Talvez pensar e agir sobre algumas questões deste tipo seja mais proveitoso do que sobre os efeitos meteorológicos sobre o investimento. Até porque aos portugueses – sem emprego, sem almoço e sem esperança – este tipo de afirmações, pelo menos no domínio do simbólico, ficam muito próximas da sobranceria e da ofensa.

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