Aldeia de Cabrum que tinha ficado sem habitantes foi repovoada

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Cabrum

Com a saída do último ‘guardião‘ de Cabrum, uma aldeia do concelho de Viseu que pertence à freguesia de Calde, as habitações foram trancadas e os terrenos abandonados até setembro do ano passado, altura em que começou a ser repovoada.

Manuel Pontes, com mais de 70 anos, resistiu enquanto pôde à vontade de permanecer na aldeia onde nasceu e foi criado, sendo, durante anos, o único habitante de uma povoação esquecida num vale de difícil acesso e sem placas a indicarem a sua direção.

Depois de ouvir repetidamente o conselho do presidente da Junta de Freguesia de Calde, o último ?guardião’ de Cabrum acedeu a ir viver para junto de uma irmã, numa povoação vizinha.

“A idade avançada do ?Manel’ deixava-me preocupado e tinha medo que ainda lhe desse alguma coisa de noite e em Cabrum não tinha ninguém para o acudir”, justificou Herculano Gonçalves.

A aldeia perdia assim o seu único habitante, ficando completamente deserta, sem viva alma para ouvir o som da água corrente, sentir o odor das roseiras bravas ou apreciar as belíssimas paisagens que se perdem no horizonte.

Há cerca de dois anos, um casal do Porto visitou e descobriu os encantos de Cabrum, sendo os primeiros a vir ocupar a aldeia.

Chegaram para ficar em setembro do ano passado, com o filho mais novo de 10 anos. O filho mais velho do casal está fora a frequentar a universidade, mas também virá para Cabrum nas férias grandes.

E, em Outubro, a família vai aumentar: Cabrum terá mais um novo habitante, já que Manuela Correia está grávida pela terceira vez.

Há pouco mais de mês e meio foi Tatiana Esteves, de 25 anos, quem deu à luz: 40 anos depois, voltou a nascer uma criança em Cabrum.

O parto foi feito em casa, com a ajuda de uma parteira, tal e qual sonhou a jovem mãe, natural do concelho da Covilhã.

Santiago foi o nome escolhido para o recém nascido, porque a casa que o viu nascer fica precisamente num dos trilhos do Caminho de Santiago.

A Cabrum chegou em dezembro com o companheiro, um inglês de 36 anos que diz ter adotado Portugal para viver.

“Já andavamos à procura de aldeias abandonadas para repovoar. Soubemos da existência de Cabrum e viemos, pois assim temos oportunidade de viver de forma sustentável, em harmonia com nós próprios e com a natureza”, explicou Tatiana Fernandes.

O desafio “tem sido enorme” e “nem sempre tudo tem sido fácil”, especialmente durante o inverno que foi muito rigoroso.

No entanto, “o ar puro, a água maravilhosa e os espaços para passeio conseguem superar as adversidades”.

O companheiro, Timoteo Daly, realça que aldeia é um pequeno paraíso, ao qual se chega depois de se passar por uma estrada florestal e um picada de dois quilómetros.

As placas a indicar a direção até Cabrum foram repostas, recolocando no mapa a aldeia que conta agora com 15 habitantes, sendo quatro crianças.

Nalia Djimbalo tem 35 anos e chegou à aldeia há cerca de seis semanas, com o filho de ano e meio. O companheiro continua na Suiça, mas a sua vinda está prevista para breve.

“Gosto muito de Cabrum, do contacto com a terra e com os animais, especialmente com os cavalos. As pessoas que aqui vivem são como uma grande família”, sublinhou.

Os novos habitantes estão a ocupar a aldeia ao abrigo de um protocolo celebrado com os proprietários dos terrenos e habitações, que nas últimas décadas abandonaram Cabrum em busca de uma vida melhor.

“Durante cinco anos usufruem as casas e os terrenos a custo zero. Vão arranjando as casas, melhorando as coisas e semeando umas hortas”, informou o presidente da Junta de Freguesia de Calde.

Findo o período acordado, o protocolo poderá ser renovado.

Timoteo Daly está entusiasmado com a vida que leva na aldeia e pretende permanecer por muitos anos.

“Quero que o meu filho cresça neste lugar saudável. Temos tudo o que é preciso para ter uma vida boa”, concluiu.

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