Nos últimos tempos temos ouvido, tudo por causa da crise, algumas afirmações de Políticos, Investidores, Académicos e, pasme-se, também, do Senhor Presidente da República.
Belmiro de Azevedo afirma: “só com salários mais baixos é que se combate o desemprego”. Na sequência, aliás, do que tinha dito o patrão do BPI: Fernando Ulrich.
O Governo continua a tentar tratar a “doença” com a receita que em nada fez diminuir o défice público, mantendo uma austeridade que começa a ultrapassar o limite do razoável.
O Presidente da República lamenta a situação em que se encontram os Portugueses, mas não vê outra solução que não seja a austeridade
Na verdade, podemos considerar que as ideias de Belmiro de Azevedo são muito parecidas com as que se praticam em Cuba.
Nesse maravilhoso País a taxa de desemprego é de 0%, sim, disse bem, é de 0%, mas importa euros referir que o salário mínimo do Estado que tudo ou quase tudo emprega, é de cerca de 15 euros/mês.
Ora, alguns dos nossos Investidores, como Belmiro de Azevedo, têm a mesma receita para os Portugueses. Naturalmente, se o ordenado mínimo em Portugal, fosse de 150 euros por mês, a taxa de desemprego, em vez de ser de 17%, seria de 5 ou 6%, com a pobreza a aumentar.
Contudo, a incongruência destes Investidores ainda é maior, uma vez que, ao mesmo tempo que defendem a descida de salários, entendem que é necessário dinheiro para relançar a economia.
Como só há economia com produção e com consumo, pergunta-se o que é que pretendem verdadeiramente.
O Sr. Presidente da República, com o discurso que fez no 25 de Abril, deixou (se é que ainda o era) de ser um factor de estabilidade na sociedade portuguesa, uma vez que em definitivo, vestiu a camisola partidária. Mais, pode vir a ser o verdadeiro responsável pela radicalização política em Portugal, uma vez que não deixou espaço de manobra para um entendimento Nacional, reduzindo tudo a esquerda e direita.
O Governo, à deriva, lá vai tentando, sempre erradamente, cumprir os 2 anos de legislatura que ainda lhe faltam, esquecendo-se que a verdadeira crise só tem solução a nível global europeu.
Esteve bem o Secretário-Geral do PS, António José Seguro, que defendeu a resolução da situação de Portugal, como da Grécia, como do Chipre, como da Irlanda, como da Espanha e de outros Países, no seio da União Europeia.
Como se pode compreender das palavras de Paul Krugman, a receita de em 3 anos reduzir os défices dos Países através de uma austeridade insuportável e desumana, não é a solução. Como ele e outros economistas têm vindo a dizer, a redução dos défices públicos deveria ser mais alargada e, ao mesmo tempo, acompanhada por medidas de desenvolvimento das economias, combatendo-se o desemprego e não reduzindo o consumo interno tão drasticamente como se tem vindo a verificar.
Todos já verificaram que a crise foi mais financeira, com início nos EUA em 2008, e não da Economia. Quem faliu foram os Bancos que utilizaram políticas de venderem dinheiro caro, sabendo que as famílias e as empresas não conseguiriam pagar juros tão especulativos.
Como a Europa importou esta crise financeira, só a nível Europeu se pode resolver a actual situação.
É impensável termos uma solução nacional para uma crise global.
Por fim, uma pequena reflexão. Só a Alemanha conseguiu em 2012 cumprir o défice de 3%, porque terá sido? Se, de repente, saíssem dois ou três Países da Zona Euro, o que aconteceria ao Euro? E à própria Alemanha?
Ou a Europa trata dos Europeus, ou a União Europeia não é precisa para nada, recordando que a construção da Comunidade Europeia foi da responsabilidade dos Partidos: Socialistas e/ou Sociais-democratas e dos Democratas Cristãos.