Salvador Massano Cardoso

Os acontecimentos sociais são comemorados de forma muito diferente. Excelentes fontes e bons pretextos para que muitos possam exprimir os seus sentimentos e ideologias. Ouço as pessoas, mais através da escrita, e vejo a facilidade com que brotam dos seus espíritos as visões de como é que o mundo deveria ser, um “ato” a relembrar um outro, o da “criação”.

Atos falhados, só pode, porque andam nisto há tempos infinitos. Não tenho nada contra as diferentes visões de como é que o mundo deveria ser, incomoda-me apenas a soberba e a arrogância com que desfilam certas ideias, destilando raiva e venenos meio escondidos a coberto do arrazoado ideológico.

Não tenho nada contra as diferentes ideologias, apenas as que podem sustentar e preservar a dignidade humana. Quanto a outras, que já andaram por esse mundo, mas que se mantêm vivas no espírito de alguns, sempre à espreita de roubar e ameaçar a liberdade e a dignidade humanas, deveriam ser banidas do horizonte. Impossível de erradicar.

No entanto, dentro da esfera do desejável, confesso que as diferenças ideológicas são muito importantes, porque obrigam ao debate, a encontrarem soluções e a identificarem melhor quais as formas de resolver as nossas necessidades coletivas. São desejáveis, imprescindíveis mesmo. Todas têm uma riqueza evidente, mas a maneira como os seus defensores as exprimem é que estraga tudo, ou seja, o que há de bom nas diferentes ideologias é amiúde deturpado e contaminado pelo que há de mais negativo nos seres humanos. Seja. Pouco ou nada há a fazer.

A essência do ser humano sobrepõe-se frequentemente ao valor dos princípios das diferentes ideologias, que, em abstracto, se expõem como sendo um contributo para a solução dos problemas. É pena que muitos não se apercebam isso.