Numa das estreitas ruas da Baixa de Coimbra, a padaria da família era o símbolo de um nível de vida desafogado. A loja à entrada, era uma sala de grandes dimensões. Uma porta larga, uma distância ampla entre esta e o comprido balcão, um pé direito de mais de cinco metros. Altos armários dos lados da divisão e atrás do balcão, davam à sala um aspecto severo de biblioteca.
Tudo ocorreu num dia de calor e a uma hora em que só o meu avô se encontrava no estabelecimento.
Um touro, quando era levado para a praça de touros que, na altura, existia na cidade, conseguiu fugir. O acaso fez que o touro se encaminhasse para a rua da padaria e entrasse de rompante pela porta dentro.
Os homens que perseguiam a fera, alguma distância atrás, com longos paus para a encaminhar para a direcção certa, ao chegarem à padaria e espreitarem pela porta, depararam-se com uma cena inesperada.
O meu avô, sentado no topo de um dos altos armários laterais observava o bicho, lá de cima, enquanto este investia sobre o armário.
O meu pobre avô estremecia e subia um pouco no ar, a cada ataque do animal., mas o armário resistia firme.
Depois de repetidos esforços dos campinos o touro lá saíu da padaria correndo para o seu triste destino.
Viznhos e familiares vieram rapidamente apoiar o meu avô, pensando que este estaria ferido ou mesmo morto, mas encontraram-no com outro problema: não era capaz de descer do armário que devia ter mais de três metros de altura.
No meio das gargalhadas perguntaram-lhe como é que ele tinha subido até àquela altura. Já não se lembrava muito bem, mas, pareceu-lhe ter tido asas por uns segundos.
Tiveram de ir buscar uma escada para o meu avô descer lá das alturas.
– O bicho parecia raivoso. Nem a minha oferta de pão quente o serenou! Brincou o meu avô, um pouco confuso, mas agora cá em baixo, mais aliviado e com uma forte dor nas costas.
Houve quem dissesse que aquelas dores nas costas se deviam à marrada que o meu avô apanhou e que o pôs no topo do armário.
Puz-me a pensar e cheguei à conclusão que, ontem como hoje, o que muitas vezes é preciso é uma marrada salvadora…bem forte!