António Augusto Menano
António Vitorino de Almeida é o que o meu velho amigo Batista Bastos designa por uma figura. Não existirá outra “bengala” igual, por muito que procuremos. O corpo que ela serve não precisa de apoio para estar sempre vertical, a comunicar com palavras certeiras e sábias o conhecimento, a compreensão da música, a boa cepa da cidadania.
Pois foi aquele amigo, que não conheço pessoalmente quem, no passado dia 25 de maio, foi entrevistado no programa de televisão “Alta Definição”, espaço televisivo que recomendo com todo o entusiasmo.
O compositor, o maestro, o autor de óperas mal-amadas, o crítico, o escritor, o divulgador, o pianista, António Vitorino de Almeida disse-nos estar todos os meses preocupado, sem saber se haveria dinheiro para a renda, e para a alimentação. Falou-nos de uma pensão de mérito, ou coisa semelhante, para cuja atribuição seria indispensável uma indigência total.
Sabe-se que a fronteira entre o condicionamento e a chamada “educação” é estreita, muitas vezes a autoridade exercida sobre nós, na infância, vai moldar os nossos futuros comportamentos e obediências.
Vem isto a propósito que é bom ouvir ser dito sem papas na língua, como Vitorino de Almeida fez, a desmistificação da grande mentira que reduz, elimina, capa, a cultura, com argumentos “economicistas”. Nós não somos um galinheiro, uma capoeira, cujos habitantes têm apenas de por ovos.