Nem sempre a situação de guerra se caracteriza por intervenções armadas e combates violentos geradores de mortos e feridos em operações militares.
Portugal vive hoje uma situação que facilmente se pode caracterizar, sem grande abuso de liberdades literárias, como uma situação de guerra.
Se não, vejamos:
O milhão de desempregados sem esperança, os trabalhadores sem certezas quanto ao seu futuro, os pequenos e médios empresários sem expectativas nem esperança, os jovens a que apenas a emigração satisfaz as aspirações pessoais e profissionais de realização.
Um Estado endividado para décadas, cujas instituições se revelam incapazes de perceber que as dificuldades actuais não se superam com recurso a velhos paradigmas comportamentais e de jogo político.
Governos que não têm como preocupação central explicar aos cidadãos, de forma transparente e clara, a situação do país e que, consequentemente, não os mobilizam para soluções globais e de longo prazo.
Um discurso oficial que centra toda e qualquer necessidade de novos recursos públicos na diminuição de direitos sociais – educação, saúde e segurança social, como se Portugal fosse um país estrutural e definitivamente avançado nalgum destes domínios!
Talvez agora se perceba melhor que diminuir horas lectivas no ensino da história, da geografia e da literatura se paga muito caro, e durante muito tempo…
Tudo isto configura uma situação de economia de guerra, ou seja, de necessidade de centrar a nossa atenção colectiva no essencial, essencial que se confunde, infelizmente, com a nossa capacidade de sobrevivência.
E quando o discurso dominante parece dominado pela cegueira da vulgata ideológica, mais do que pela necessária relação com os cidadãos, permitimo-nos sugerir, algo temerariamente, que no inevitável orçamento rectificativo que se aproxima se fixem alguns dos seguintes compromissos:
Imediata publicação na Diário da República, em língua portuguesa, de todos os instrumentos contratuais acordados com a “Troika”;
Publicação obrigatória no Diário da República, em língua portuguesa, de qualquer novo acordo celebrado com a “Troika”;
Fixação e divulgação de uma lista quantificada de todos os encargos do Estado – directos e indirectos – para que todos os portugueses possam saber o que os espera;
Informar os cidadãos sobre o que está previsto – quantitativa e qualitativamente – para os Fundos Comunitários a partir de 2014 e até 2020;
Divulgar, de forma clara e compreensível para todos, os compromissos financeiros da República, os seus custos e os momentos da sua exigibilidade.
Essencial para gerir uma economia de guerra é a mobilização dos cidadãos e essa mobilização só se consegue com informação clara e mobilização colectiva.
A verdade é que não nos sentimos informados e, consequentemente, não estamos mobilizados.
Enquanto assim nos mantivermos, não teremos solução enquanto povo!