Opinião – E quando a TROIKA se for embora?

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LUÍS PARREIRÃOLuís Parreirão

O discurso político e o espaço mediático têm estado, compreensivelmente, dominados pela Troika, pelas suas sugestões ou decisões e respectivas consequências. Acontece que, se tudo correr como previsto, daqui a um ano a Troika “vai-se embora ” e o país voltará a recuperar a sua autonomia decisional.

Ora, e sem querer agoirar, seria muito triste para todos nós, e tanto mais quanto mais qualificados forem os intervenientes, se o discurso político não for, nesse momento, o da projecção de Portugal para o futuro.

Se é verdade que o caminho de Portugal será, em grande medida, o que a Europa, no seu conjunto, adoptar, não o é menos que ninguém fará o nosso próprio trabalho.

Acontece que, segundo entidades multilaterais credíveis, a média de crescimento do PIB no Mundo, entre 2005 e 2030, será de 3,4%, em Portugal de 1,44% e na Zona Euro de 1,52%. Já na África Subsaariana será de 5,28% e na América do Sul de 4,4%.

Por mais “equilibradas ” que fiquem as nossas contas públicas alguém acredita, ou alguém consegue explicar como é que com estes níveis de crescimento vamos pagar a dívida existente e recuperar o emprego perdido? Por outro lado, será aquele ritmo de crescimento europeu suficiente para obstar ao caminhar da Europa para a irrelevância geopolítica, bem como a uma possível desintegração da Zona Euro?

Se o crescimento for este, está dado o sinal que o investimento – hoje praticamente inexistente – se vai manter em níveis muito baixos, não invertendo a actual situação de aumento de liquidez no sistema bancário sem a correspondente procura de crédito.

A ser assim como, quando e em que condições vão os portugueses pagar a sua dívida actual? A menos que se descubra um qualquer novo recurso natural transaccionável, vai ser com o produto do nosso trabalho que vamos pagar o que devemos. E o que devemos – Estado, empresas e famílias – é cerca de 450 mil milhões de euros…

A tendência para o envelhecimento da população mundial tocará especialmente Portugal, pelo que não há um minuto a perder para pôr em prática políticas agressivas de estímulo à natalidade, bem como políticas activas de imigração que dêem sustentabilidade aos nossos sistemas públicos.

O caminho da humanidade será inexoravelmente o da concentração da população em cidades. Em 2030 – já só faltam 17 anos! – teremos um mundo de megalópoles, triplicando o actual espaço urbano. Este representará 5 mil milhões de cidadãos para uma população mundial de 8,5 mil milhões. Portugal, já hoje fortemente desertificado, tem que rapidamente atrair população para o seu interior, sob pena de colocar em causa a sua própria soberania sobre o território.

Também por isto mais importante que andar a discutir se os Ministros são muitos ou poucos, talvez seja mais pertinente pensar e propor uma política para a gestão e organização do nosso desequilibrado território, onde hoje a densidade populacional oscila entre os 5 os 7000 habitantes por quilómetro quadrado.

Enquanto o espaço mediático anda ocupado com discussões a propósito da Troika , bom seria que interiorizássemos que daqui a um ano a Troika se vai embora e que nenhum dos nossos problemas estruturais ficou resolvido! Mais, que há um conjunto de problemas novos, ou com novas formulações, para os quais é preciso encontrar respostas.

Sem desculpas!

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