Opinião – Café de Santa Cruz festeja 90 anos

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MÁRIO NUNESMário Nunes

O cenário interior (arquitetura) e o ambiente social e cultural que se respira, saudavelmente, no Café de Santa Cruz, adquiriu maior acuidade desde o restauro operado entre 2000/2002 e a reabertura ao público em 10 de Março daquele ano. O empresário que integrava a gestão daquele espaço emblemático de Coimbra, entre 1974 e 1985, Alexandre Marques, um dos três elementos da sociedade Marques, Gonçalves & Pestana, Lda., que passou a gerir o estabelecimento de restauração, soube entender que a degradação do imóvel e do espaço, não eram consentâneos com a nobreza do edifício e eram negativos para a manutenção e renovação da clientela e ampliação das suas atividades. Por isso, transformou e melhorou, significativamente, as zonas de trabalho, as instalações sanitárias, a iluminação, o mobiliário, a esplanada e a antiga capela-mor da ex-igreja e que servia de copa e acesso à cozinha do restaurante. Nesta alteração embelezou o espaço e conferiu-lhe as necessárias condições para iniciativas culturais e de promoção turística. Uma modernização exemplar que manteve íntegra a estrutura secular que recua ao tempo em que o local era a Igreja de São João de Santa Cruz, templo coadjuvante do culto do Mosteiro, e que recebeu o atual café, aberto ao público em 8 de Maio de 1923.

As comemorações alusivas ao evento dos 90 anos, que o dinâmico gerente e empresário Vitor Marques, que refrescou, ampliou e diversificou as iniciativas, está a organizar, indiciam, pelo teor das notícias vindas na comunicação social, uma forma condigna de mostrar o valor do monumento e também a vontade de honrar a memória daqueles que iniciaram a jornada empresarial e os que souberam, com mérito, continuar o trabalho.

Ao relermos a monografia elaborada pelo Dr. António Inácio Correia Nogueira, edição da Câmara Municipal de Coimbra:”Santa Cruz – um café com história”, ficamos cientes da grandeza do estabelecimento comercial e da sua inserção na cidade ao longo de nove décadas. Local que foi palco de importantes manifestações referentes à urbe, que agitou as “águas” em momentos de adormecimento, que permitiu que as tertúlias dos grupos, com alguma “rivalidade”, que ali se reuniam, forjassem uma moldura de críticos que contribuía para uma cidade viva, permanece ativo na dimensão da sua existência. Ao analisar esse tempo ressalta a maneira de encarar os futricas e estudantes, o União e Académica, a Universidade e a cidade, o progresso e o amorfismo citadino. As paredes deste monumento guardam histórias marcantes da história de Coimbra e do país.

Ao vasculharmos os apontamentos das nossas pesquisas históricas, deparámos com um documento que testemunha o arrendamento daquele espaço para comércio. O documento refere a contribuição predial urbana, regista o artigo 351 da matriz, data de 27 d Janeiro de 1951, confirma que o proprietário é a Junta de Freguesia de Santa Cruz e anota que a renda anual paga pela empresa de restauração do café, respeitante ao rés-do-chão e 1º. andar, ocupado pelo pároco, era de 18.000$00, sendo o contrato de arrendamento celebrado em Janeiro de 1949. Ao abordarmos este monumento tão importante de Coimbra queremos confirmar o que escrevemos no prefácio do livro de António Nogueira: “ Café de Santa Cruz concilia um passado e o presente que enleiam o seu percurso histórico, evidenciando na riqueza dos seus pergaminhos ancestrais a força que bafeja e reside na sempre jovem e sedutora Coimbra”.

 

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