Opinião – Burocracia privada

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Maria Manuel Leitão Marques

Maria Manuel Leitão Marques

Muitas vezes queixamo-nos da burocracia dos serviços públicos. E bem, devemos ser os principais instigadores da sua simplificação . Somos bem mais complacentes com o setor privado. Não devíamos .

O setor privado tem condições para ser exemplar, mais recursos e maior flexiblidade para ser inovador . Mas nem sempre o é. Na semana passada pedi ao banco de que sou cliente há muito anos um cartão de crédito que acumulasse pontos convertíveis em milhas, melhor dizendo em viagens!

Coisa simples considerando que o meu atual cartão já é emitido pelo referido banco. Parecia, mas na verdade não era. Foi-me pedido para o efeito um recibo da água ou semelhante a para comprovar a morada, essa mesmo com a qual o banco comunica comigo todos os meses, e um recibo de vencimento, para comprovar a profissão, apesar de o meu salário ser depositado nessa mesma conta. Tudo no devido suporte de papel.

Perante o meu protesto por tanta redundância, o argumento que a minha Universidade já não emite recibos de vencimento em papel há muito tempo e que a morada pode ser lida no meu cartão de cidadão, a resposta foi típica de uma organização pública, o chamado “chutar para cima”. A culpa seria do Banco de Portugal. Desculpa estúpida porque se a intenção é controlar a atribuição dos cartões de crédito em função do rendimento e desse modo controlar o endividamento, intenção muito louvável, a informação solicitada já lá estava disponível.

Espantoso aliás que o Banco de Portugal, que sempre primou pela ausência nesta matéria, deixando crescer sem controlo o crédito ao consumo e a habitação, quando o devia ter controlado e evitado o sobreendividamento das famílias, venha agora, depois da “casa roubada “, com este tipo de controlo burocrático cego num momento em que o crédito já está por natureza limitado. Tratando-se de substituir um cartão por outro, aliás, pago todos os meses por débito em conta, nem sequer um maior potencial de crédito seria concedido.

Enfim, serve este exemplo entre outros por aí à solta para mostrar a importância de uma cultura de simplificação, não apenas nas organizações públicas, mas também nas privadas. Para além delas, essa cultura deve ser de todos nós, vigilantes contra redundâncias e ineficiências que finalmente somos todos nós que pagaremos.

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