Esta Coimbra dos Afectos: As crianças de Coimbra
1.Um bando de pardais à solta….
Parecia “um bando de pardais à solta…” quando aquele grupo de crianças irrompeu com alegria e algazarra, por ali dentro. Vinham ver o filme “O Feiticeiro de Oz”. O 3º andar do Dolce Vita que aquela hora, cheio de adultos, estava em silêncio, triste e preocupado, tornou-se de repente mais vivo e mais alegre.
2. Como se tivesse visto um extra terrestre
Eu estava numa daquelas mesas que, frente à entrada para os cinemas, constituem um bom ponto de observação. Escrevia a última Crónica para “As Beiras” sobre a “Pascoa em Coimbra”.
Um dos putos, o mais crescido, óculos de lentes grossas, olhos vivos, cabelo espigado, dirige-se a mim, encosta-se à mesa e dispara: – O Senhor é escritor??
Apanhado de surpresa e não lhe querendo defraudar as expectativas, respondi de imediato: -Sou sim senhor! Escrevo Crónicas de Opinião para o Jornal “As Beiras”!
E como nesse dia tivesse saído a Crónica sobre “As Mulheres de Coimbra”, puxei do jornal e mostrei-lho.
O puto olhou para mim, espantado, como se tivesse visto um extra-terrestre. Nunca tinha estado com um escritor à frente dele, ali à mão de semear. Ainda por cima com direito a fotografia no jornal.
3. O autografo anunciado
Exultante, virou-se para os outros e exclamou: -Eh malta, venham todos. Está aqui um escritor!!
De repente toda a miudagem confluiu para a mesa onde estávamos, eu e ele. Sem perder tempo, pediu-me: -O Senhor dá-me um autógrafo?
Puxei duma folha do caderno, perguntei-lhe o nome e escrevi; – Ao Afonso Dias, com amizade. Ass: Helder Rodrigues.
Agarrou no papel com mil cuidados e gritou, envaidecido, para os outros, que vinham chegando: -Este Senhor, é escritor e deu-me um autografo, “com amizade”!
Com todos á roda da mesa; a Benedita, o João, o Pedro, o Miguel… perguntei se gostavam de Coimbra. Responderam em voz alta e cristalina, que ecoou pelo Dolce Vita fora: – Siiimm!!!
Então a todos li a Cronica que estava a escrever e que falava do Padre de Santa Cruz, que fazia a Visita Pascal às casinhas da Baixa.
Ouviram com atenção, e gostaram, mas agora também queriam o ansiado autógrafo.
-Então, ponham-se em fila, para o autógrafo, e para que leiam mais vezes o Jornal “As Beiras” e gostem cada vez mais de Coimbra, disse-lhes eu.
E lá foram, um a um, contentes, a dobrar cuidadosamente as folhas autografadas, a caminho do filme, que estava quase a começar.
Fechei o computador, levantei-me, comprei um bilhete e fui, com eles, ver “O Feiticeiro de Oz”
4. Reflexões para o Presente
Fiquei a meditar sobre este exemplo de vida que nos dão, todos os dias, as crianças de Coimbra. “Este bando de pardais à solta…”, que inunda a cidade de alegria, de genuinidade, espontaneidade, curiosidade e espanto.
Que magnifico exemplo, que nos dão! E pensei que nós, adultos, não devemos, em circunstancia alguma “deixar morrer a criança que há dentro de nós”!
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