Opinião – Eleições não se ganham na véspera

Posted by
Spread the love

BRUNO PAIXÃO opiniaão recorteBruno Paixão

Com os candidatos autárquicos já decididos, começou a corrida à estratégia eleitoral para conquistar o maior número de votantes que escolherão os próximos presidentes de câmara.

Muita coisa mudou nos últimos anos. Os eleitores amadureceram e pensam mais antes de votar. Mudou a maneira de fazer política, o modo de comunicar, as ferramentas de informação, a disponibilidade e a vontade de participação dos cidadãos. Estas mudanças não devem ser ignoradas, embora alguns candidatos ainda fiquem submersos na dissonante certeza de que a política é uma árvore de folha perene. Sugiro uma passagem por Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / Muda-se o ser, muda-se a confiança / Todo o mundo é composto de mudança (…)”.

Desde os anos 90 tem-se perdido o envolvimento das bases, a campanha porta-a-porta, o contacto com o país real e com as pessoas. Por isso, a comunicação direta, hoje usada como candeia do “micro-targeting”, é uma tendência que reaparece sob a égide das mais afoitas estratégias de marketing político.

Na cabeça dos candidatos ecoa uma questão: que estratégia para vencer? É possível fazer coisas bem feitas, criativas, apelativas e emocionais sem clonar nem imitar. Dá trabalho. Mas é para isso que a comunicação política deve estar preparada. Não há fórmulas prontas. Há, sim, técnicas e destreza acumuladas. Cada campanha produz novas perguntas e ao seu responsável cabe encontrar novas respostas. É necessário definir um rumo e aferi-lo todos os dias, construindo caminhos em direção ao objetivo, equilibrando sensação e raciocínio.

Eleições não se ganham na véspera. Com ironia, João Santana, responsável pela reeleição de Lula, diz que “a campanha começa no dia em que o candidato nasce”. Esta metáfora vem dar mais sentido à ideia de que uma má imagem nas primeiras aparições pode descambar numa retumbante derrota. Sabe-se que o arranque em falso é, habitualmente, fatal. O momento do anúncio do cabeça-de-lista seguido de um vazio reiterado e descolorido deita por terra as melhores aspirações.

Hoje, os políticos estão mais preparados para triunfar. É por isso enigmático, na era da comunicação, que ainda se assista ao outdoor confuso, à mensagem longa e ilegível, às palavras inadequadas e em contradição com a imagem, à ideia negativa, ao slogan amorfo, ao blog entediante e maçador, à desfocalização no eleitor, à falta de temas definidos, à inexistência de análise eleitoral, ao desinteresse pelos cidadãos, à batota. Uma campanha equivale a contar uma história de forma a que a criança que está em cada eleitor confie que o candidato é o único herói credível.

 

One Comment

Responder a Leticia Martelle Cancel

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.