Vamos imaginar que um dia acordamos e não há jornais, nem rádio, nem televisão, nem internet. Tudo se apagou e ficámos sem notícias. No carro, a caminho do trabalho, sintonizamos o vazio absoluto. Deixaremos de saber do resgate de Portugal pelo FMI, da morte de Chávez, da resignação do Papa, dos novos impostos, de toda uma vida que passa em cada minuto. Sem consciência de nós no mundo.
O tempo que hoje vivemos é sobretudo caracterizado por uma cidadania que se alimenta de informação, o que justifica que esta seja cada vez mais moldada para atrair a atenção dos públicos. As pessoas formam as suas impressões sobre os acontecimentos a partir dos media, avaliza Doris Graber, da Universidade de Illinois, Chicago. Fulano de tal passou a ser aquilo que o jornal escreveu que ele era!
Sabe-se hoje que a aquisição de conhecimento é contínua e cumulativa, já que apreendemos a nova informação a partir da perspetiva daquilo que previamente armazenámos. Tal como institui a declaração de princípios do Wall Street Journal: “cremos que os factos são factos e que é possível chegar à verdade colocando um facto sobre outro facto, como na construção de catedrais”. Os estudos referem também que os cidadãos, quando não dominam a informação, tendem a adotar as interpretações dos jornalistas. O que concede aos media uma influência poderosíssima sobre a opinião pública e sobre o nosso sentido de vida. “Citizen Kane – O Mundo a seus pés” ( 1941 ), de Orson Welles, deixa evidente a caricatura da importância que a imprensa tem na escolha, na criação e na ampliação da realidade.
Assim, em política, errados estão os que desvalorizam o efeito dos media nas campanhas eleitorais. O suprimento de informação é hoje mais abundante do que nunca, se considerarmos a totalidade de todas as ofertas, incluindo a internet. A oportunidade de os cidadãos observarem a ação dos políticos multiplicou se. Esta sequência de ideias conduz-nos ao fenómeno de “ativação”, como designa Graber, ou seja, o efeito mediático que leva as pessoas a absorverem a informação das notícias e a usá-la para orientar o seu pensamento subsequente.
A grande quantidade de novos meios de comunicação que emergiu nas recentes décadas graças ao progresso das tecnologias, do papel ao online, da tv ao tablet, do telemóvel àquilo que ainda está para vir, curiosamente, tem comprometido a coesão social, consideram alguns investigadores, dizendo que, com tão ampla oferta de notícias e de assuntos díspares, o vínculo de informação partilhada que no passado unia as comunidades, tende a ficar enfraquecido. Estamos perante o receio de que as pessoas possam abandonar a antes repartida esfera pública, onde discutiam as notícias no café, e retirar-se para uma multitude de guetos comunicacionais.