Aires Diniz
Todos os dias vemos nos jornais histórias de pais e mães desesperados e à deriva, que decidem desistir de viver e levam com eles os filhos. Fazem-no numa atitude incompreensível para quem ainda vive com alguma esperança. Contudo, o governo vai-nos enviando sucessivas doses de austeridade, num custe o que custar, onde nunca faz contas certas…dos custos. Por isso a Folha Excel, onde Vítor Gaspar faz ver que fez as contas, está sempre errada, obrigando a Troika externa a ficar mais tempo por Lisboa, parecendo não conseguir acertá-las à primeira.
Entretanto, desequilibram as contas de cada um de nós, que todos os dias temos que pensar como obter uma nova igualdade entre despesas e receitas. De facto, as primeiras aumentam sempre e as segundas diminuem continuadamente, tornando tudo mais complicado e até impossível no jogo da oferta e da procura. É onde os desequilíbrios se perpetuam, levando empresas e famílias à insolvência e falência.
Nada é como Latino Coelho nos conta: “Estamos na ponte da velha Coimbra. Temos à direita a Couraça de Lisboa. À esquerda a calçada com os seus especieiros e mercadores. A uma parte a ciência e a abstração. A outra parte o facto com a mercancia. Dum lado os doutores, os atenienses da cidade, e do outro, segundo a oprobriosa expressão da aristocracia académica, os ilotas e os futricas. Dum lado a Minerva, idealista e melancólica. Do outro o Mercúrio realista e jovial.”
Nada se assemelha agora a um mundo harmonioso.
Tudo se afigura irrealista e pouco jovial. É só penoso.
Na verdade, a situação é o resultado de uma má governação, onde, além de fazer mal as contas, nem sequer a letra de Grândola sabem, mas esta lembra-nos um povo que é quem mais ordena.
Infelizmente, estes partidos do arco-do-poder, para além de terem colocado no Banco de Portugal gente ignara e cobarde, incapaz por isso de pôr os banqueiros na ordem, deixaram de obrigar tantos devedores relapsos a pagar o que devem. Não admira que sejam uns bons milhares, obrigando milhões de portugueses a pagarem com enormes e desumanos sacrifícios o que os trafulhas referidos desviaram para offshores e outras coisas piores. Assemelha-se por isso a economia portuguesa a um barril mal vedado, em que o feitor da vinha obriga toda a gente a deixar correr para as ruas da amargura o vinho tão trabalhosamente produzido para tonéis alheios, empobrecendo quem trabalha.
Na verdade, as estatísticas, que vamos ouvindo, mostram a redução criminosa do Produto Interno Bruto. De facto, é o resultado do desemprego, da falta de incentivos aos trabalhadores e da falência e insolvência de tantas empresas, que seriam viáveis se este governo fosse de boas contas e velasse pela aplicação da Justiça.
E sendo estas as causas dos nossos problemas, é evidente a receita para debelar esta crise: Contas bem-feitas e Boa Justiça.
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