Opinião – Solum assiste ao delapidar da natureza

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MÁRIO NUNESMário Nunes

O artigo de hoje estava elaborado. Porém, situação anómala que mexe com os nossos sentimentos de defensores do património cultural e natural, obrigaram a criar outro texto. Ontem, de manhã, um grupo de homens, máquinas e camionetas, num aparato que dava nas vistas pela diversidade dos meios materiais e humanos, rodearam um pinheiro de enorme dimensão, colocaram barreiras ao trânsito e iniciaram o abate da imponente e vetusta árvore. Sem mais delongas destruíram durante um dia de trabalho um pedaço da herança recebida, uma árvore das centenas que o ex-Presidente da Câmara, Dr. Mendes Silva e impulsionador do Bairro-Jardim da Solum, mandou plantar, oferecendo àquele espaço a desejada qualidade de vida dos moradores. Bairro que, infelizmente, tem sido maltratado e transformado, para pior, olvidando-se o projeto inicial. E, o arvoredo tem recebido a fobia de alguns moradores e a aquiescência dos serviços camarários, que em vez de plantarem árvores cortam as herdadas.

Pobre pinheiro que morreste com dignidade. Há dezasseis anos quiseram matar-te. Mas, o técnico camarário e excelente profissional, Engº. José Freixo, mais o Engº. Patrão, não cederam aos pedidos de derrube. Homens com outra visão e sensibilidade. Agora, aposentado, um, e noutra empresa, o outro, eis o “crime” consumado. Pinheiro majestoso que deste a tua sombra aos cidadãos, que recolhestes no teu seio tantas aves, que enobrecestes com o teu porte altivo o espaço onde homens de outra postura te plantaram. Morrestes, mas a base do teu tronco ficará a julgar aqueles que accionaram a lâmina da guilhotina sobre o teu corpo e aqueles que deram ordem para te matar. Pessoas insensíveis que preferem o alcatrão e o cimento armado, que gostam de árvores de pedra e conjuntos arquitetónicos de ferro e cimento.

A fobia à árvore na Solum começou há dois/três anos. As ruas Humberto Delgado, Infanta D. Maria, Av. Elysio de Moura e transversais têm sido mártires desta onda de desprezo pela natureza. A árvore é um empecilho. E, hoje, continua a mortandade. Em vez de plantarem árvores, fazerem limpeza, cuidarem dos jardins, taparem os buracos e ornamentarem os espaços de vivência humana e animal, enveredam pela morte dos bens que dão saúde e beleza ao homem.

No passado mês de Novembro envenenaram as aves, de que resultaram, em cadeia, as mortes de cães e gatos e o envenenamento do solo com a infiltração do veneno na água, que corre para os veios que nos alimentam. Agora, continuam nas árvores. Não é a desertificação da Amazónia e o desaparecimento das florestas da África equatorial, nem a exterminação da árvore de areia pelas empresas chinesas na Guiné, mas cortar, é eliminar o arvoredo.

Esperamos que o derrube acabe. Que a Solum fique com vestígios do que era, há alguns anos. Que o cenário do Parque Manuel Braga, do Choupal, do Vale de Canas (este com os incêndios e temporal, tal como os Jardins Botânico e de Santa Cruz), o Bairro de Santa Apolónia e outros recantos do concelho, sirvam de exemplo para aqueles que não têm sensibilidade para a natureza. Antes de matarem uma árvore reflitam nos anos que levou a crescer e na memória daqueles que as plantaram.

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