Opinião – Más leituras

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Aires DinizAires Antunes Diniz

Comprei há dias um livro que me falava dos erros correntes feitos pelos “Humanos”, contrapondo-os aos ditames dos Econs, os economistas. Foi o que inferi de uma primeira leitura do livro de Daniel Kahneman, prémio Nobel da Economia, sobre o pensamento, quer rápido quer lento, publicado em 2012. Aí, mostra como muitos raciocínios são falíveis, enviesados e até errados, procurando refazer a racionalidade de todos e também dos economistas, afirmando até que os especialistas dos mercados financeiros têm sobre estes decisões quase sempre incompetentes e demasiadas vezes erradas.

Por outro lado, todos sabemos como a crise que vivemos, é o resultado em grande parte das decisões de governos, de banqueiros e de gestores de grandes empresas, todas demasiado grandes para falir, sendo também demasiado grandes para os seus líderes possam ir para a prisão. Contudo, alguns destes empresários argumentam capciosamente com a necessidade de não pagarem impostos sobre lucros, fugindo para paraísos fiscais, numa estratégia deliberada que fazem passar por eles uma parte importante da riqueza mundial. Não admira que os povos sejam agora colocados perante a iminência de verem reduzido o âmbito e a provisão dos seus direitos sociais, sendo até colocados perante a necessidade de os reduzir como vemos pelas leituras de jornais e notícias radiofónicas e televisivas. Por isso, tal como acontecia em 1932, e “conforme se deduz de uma transcrição que as «Novidades», num dos seus últimos números fazem de «O Século», o Venerando Prelado de Coimbra publicou há pouco uma circular destinada a precaver os seus súbditos e os fiéis em geral contra as más leituras” ( 1 ) . Por isso, Bento XVI se prepara para condenar estes paraísos fiscais numa Encíclica com um capítulo sobre Fraude e Fisco. Diz-nos a Wikipédia, alertando-nos para a incoerência Católica. Estranhamente, toda esta situação mantem-se por força de teorias económicas sem qualidade, que enviesam os raciocínios dos “humanos”, mas que são apresentadas como corretas e irrefutáveis. Participam nesta “lavagem das consciências” muitos comentadores e jornalistas que fazem ver que são econs, mas que não passam de charlatães. São todos “muito inteligentes e ainda mais sapientes”, mas os factos vão refutando as suas teorias. De facto, o valor do deficit do nosso orçamento de estado não bate certo com as previsões e para o acertar, o único remédio proposto são sempre mais sacrifícios, todos muito desumanos, mas …só para o povão. Tudo mostra como as teorias da gente que nos governa e aconselha os nossos governos comprovam as ideias de Amos Tversky e Daniel Kahneman sobre a racionalidade frágil e limitada dos humanos, em particular quando nos querem enganar.

Nada justifica que continuemos a acreditar nas tretas assim proclamadas. Acabemos com esta mascarada. E já.

( 1 ) – Voz de Lamego, Ano II, n. 70, 12 de Março de 1932, p. 1, colunas 1 e 2.

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