Opinião – Tempos terríveis

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LUCÍLIO CARVALHEIROLucílio Carvalheiro

Dizem-nos que a Europa continua a aprovar o nosso exemplo e a admirar os nossos esforços. Mas o que é certo é que agora sabe-se mais quem é que paga e a quem.

E uma Assembleia da República atónita vota um Orçamento do Estado para 2013 sem saber como nem porquê , como se trate da Lei de um poder déspota, absoluto e ilimitado; acresce que a Constituição da República passou a ser lida e interpretada por quem está mais preocupado com a imagem do que com a realidade económica e social do País.

Assistimos, pois, àquilo a que se chama Governo que passa nos vários palcos do Palácio de S. Bento e no Palácio de Belém em meros actos que respeitam apenas os partidos frustrados, num diálogo vazio; o que é assustador, o que é dramático.

E o Partido Socialista (PS) continua a entender que a situação económica, financeira, social, ainda não atingiu o ponto de ruptura que justifique uma crise política – moção de censura – e consequente reivindicação de eleições legislativas antecipadas. Parece, por tal abulia política, ser legitimo suspeitar que o seu Programa de Governo não será tão diferente como se diz.

Por tudo, as cenas surrealistas do tecnocrata Ministro das Finanças que, na sua frieza universitária, ama o poder e o dinheiro sem a responsabilidade político-social, sem querer saber, ou sem prever as consequências das consequências; cálculos, previsões, desacertos, acertos «custe o que custar» numa escalada paranóica é a sua forma de actuar, o que leva o Estado a ser o esgoto do financiamento bancário que gasta o nosso tempo e dinheiro e que, sem pertencer a qualquer legitimação política ( a banca), parece segura de pertencer a alguma coisa misteriosa e funcional.

Decerto. Credibilidade, confiança, no País e no Governo, é tudo menos o que é invocado, porquanto: se atentarmos à visão global do espaço em que nos inserimos teremos necessáriamente, obrigatóriamente, de concluir que é a estratégia do Banco Central Europeu (BCE) que proporciona, influência a evolução positiva ou negativa das taxas de juro da dívida soberana, da liquidez dos bancos, do “alinhamento” dos mercados. Não convém, por isso, iludirmo-nos com um amanhã mais risonho anunciado pelo Governo porque, na realidade, o que este Governo PSD/CDS nos sopra é, na verdade, o vento do medo: medo dos mercados, medo da falta de financiamento do Estado no curto-prazo, medo dos parceiros europeus – um medo sem abrigo.

Mas não há nenhuma razão para escondermos os nossos embaraços: em ano e meio uma subida de 30 pontos percentuais da dívida soberana ( 92% do PIB para 120,5 %); 25 empresas por cada dia requerem insolvência; 16,4 % de desempregados; redução de salários e reformas; aumento brutal da carga fiscal; investimento público reduzido a zero; e o deficit do Estado não diminui. Já para não se aludir a toda uma série de privatizações (venda de património).

Ora, se todos estes dados, irrefutáveis, não são o caminho directo para a catástrofe nacional, para o abismo, para a escarpada do precipício, então falar de razoabilidade e racionalidade é coisa que escapa ao comum dos mortais ou, no mínimo, me ultrapassa.

Pois bem. Temos que tentar os exorcismos capazes de acabar com as práticas de um espírito político sem corpo visível, esperando-se que a urgência da sociedade civil, definitivamente, tenha absoluta prioridade e defina uma nova posição para o futuro.

 

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