Ayamonte traz-nos à memória caramelos, brinquedos e calamares. Faz parte de um certo tempo da nossa infância e adolescência. Porém, hoje, é muito mais do que isso: juntou-se com a vizinha V.R. Santo António e criaram uma eurocidade.
O conceito é muito interessante e mais oportuno ainda. Afinal de contas, as duas urbes – que aparentemente estão separadas pelo Rio Guadiana – decidiram formalizar uma partilha de infraestruturas e de programas conjuntos no turismo, na cultura e no desporto, por exemplo. Entre outros, o Alcalde e o Presidente, de partidos distintos, têm em cima da mesa a “ideia da criação de um cartão municipal conjunto, intercâmbio entre as duas escolas hoteleiras de ambos os países, utilização partilhadas das infraestruturas desportivas e culturais ou até harmonização de preços de licenças para o comércio, entre outras”.
As eurocidades nos dias que correm são o melhor exemplo do que deveria ser a Europa e não é. São a concretização fatual do ideário fundador da Europa, que tão esquecido anda nos últimos anos.
Quando Bruxelas – de mão dada com o FMI e outros tantos tecnocratas – impõe cortes e medidas draconianas que afastam os europeus entre si e agravam o fosso entre os do sul e os do norte; as eurocidades são exemplos a enaltecer de partilha e de maximização de meios.
Verdade seja dita, pecam por tardias esta eurocidades, porquanto os “rios de dinheiro de Bruxelas” que verteram ao longo da década de noventa permitiram a construção de obras megalómanas e redundantes em cidades fronteiriças e o desperdício de fundos estruturais, quando poderiam e deveriam ter sido geradas sinergias que promovessem a partilha “ab initio”, tal qual se pretende agora fazer nos domínios desportivos, cultural e turístico.
Mas, vale mais tarde que nunca!
A gravidade da crise em Portugal e em Espanha vai obrigar a multiplicar este tipo de projetos de partilha e de comunhão. Não há alternativa. Cada país isoladamente não sairá da crise. Começa-se nas cidades e nas regiões, devendo estender-se aos países a prazo. A ideia do “Iberismo” tão proclamada por Antero de Quental no século XIX e já defendida por outros neste nosso século – destaque para José Saramago – pode ter no contexto de crise económica e política atuais o argumento para se aprofundar. Assim seja!
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