Artur Baptista da Silva apresentou-se como coordenador de um centro de estudos das Nações Unidas e foi entrevistado por jornais, rádios e televisões portuguesas. Opinou bastante e, verdade seja dita, teve eco positivo. Sucede que o dito observatório não existe e ninguém na ONU conhece o senhor, que já foi considerado um impostor.
Outros senhores, do FMI, escreveram um relatório sobre a despesa pública portuguesa, a pedido do governo português. As suas credenciais permanecem intocadas, mas discorda-se por várias razões do teor da mensagem. Fico sem saber se é mais importante a forma ou o conteúdo. Estou embustado.
É um problema muito sério este descalabro de credibilidade. Tem contribuído sem tréguas para a gritaria em que estamos actualmente afundados (“fantoche” já é um eufemismo para qualificar o primeiro ministro). A culpa é, em grande medida, dos próprios políticos. Antes do pretenso consultor da ONU chegar à cena mediática, já ninguém dava credibilidade às licenciaturas do ministro Relvas e do ex-primeiro ministro José Sócrates. Quem tem um bocadinho de memória, sabe que no início da década de 90 o ministro das finanças Braga de Macedo deixou-se levar pelo “oásis” tecnicamente criado pelo actual ministro das finanças Gaspar. Por causa da expressão, Braga de Macedo deixou de ser ministro e Gaspar foi “promovido” a consultor do Banco de Portugal. Tempos houve em que alguns euros da antiga SISA ou uma manta de avião conduziam a uma remodelação governamental. Hoje, reina a indecência ética.
O governo anda de mal a pior e consegue apresentar em dois anos consecutivos orçamentos que são um embuste legal. O do ano passado já foi considerado inconstitucional e o deste ano vai pelo mesmo caminho. Poderia dizer que o ministro das finanças é um incompetente. Não o faço. Desde o “oásis” em que deixou o seu ministro Braga de Macedo tem sido aparentemente promovido. Mas que é um embuste, lá isso é (acompanhado por Relvas e PPC). É um embuste porque fala em reformas do Estado quando o que verdadeiramente quer é cortar nas reformas dos portugueses.
Para além de Álvaro e de Paulo Portas, ninguém parece dedicar um minuto a arrecadar receita. Todos os outros que teriam competência para atrair investimento mais parecem um embuste. Melhor seria termos um Algarve para os reformados da Europa, um Alentejo transformado em campo de golfe (com umas zonas de caça exclusiva), uma nova Macau de Tróia a Espinho (com uma zona exclusiva para surfistas do Guincho até ao canhão da Nazaré), um litoral norte para descansar e todo o interior como “inshore” com taxas de IRC (e IRS) a 10% ou menos. Para quem não sabe, a taxa de IRS efectiva em Macau ronda um máximo de 5%!
A realidade política anda atrapalhada, sem voz de comando que fale português. A anterior, por mais que queira, ainda não é solução. Por mais que o PCP se demarque da reforma da sua autarca, não consegue demarcar-se. O PS, por seu turno, nem se dá ao trabalho de se distanciar e volta a candidatar em Coimbra um reformado da política. Enfim…, estamos como o Sporting que gostaria de poder contar uma verdade desportiva diferente esta época. Ou como eu, que me envergonho sempre que me fazem perguntas sobre os corpos sociais da AAC-OAF. Estou embustado.