Opinião – Ideia#58 – caçar pechinchas

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Paulo Almeida DR

Paulo Almeida

Das 60 ideias para sobreviver em 2013 publicadas na Revista do Expresso não encontrei uma que servisse o seu anunciado propósito – sobreviver. Vá lá que ainda foram a tempo de aproveitar o despacho de Fernando Leal da Costa e o 60º conselho foi “deixar de fumar”.

De resto, um nostálgico regresso aos tempos comunitários em que “o que é teu também é meu” e ideias só para quem delas pode usufruir, do tipo viajar low cost, trocar de casa nas férias (com estrangeiros, de preferência), comprar online, abusar de cartões cliente, música do iTunes ou preferir marcas brancas nas compras e marcas de luxo no aluguer. Conselhos para gastar e não para sobreviver.

Está dramático ser-se moderno insatisfeito. Volta-se sempre ao passado, ao tempo em que parece que tudo era bom e as pessoas mais felizes. O regresso, contudo, é apetrechado. De smartphone na mão consigo saber qual a boleia mais próxima, ao mesmo tempo que aprendo a depenar e a cozinhar uma galinha como um chef 3 estrelas Michelin. Troca-se o bonsai por horas a tratar de um talhão de terra com as galochas que estão na moda. Voltamos a aprender o que é uma cooperativa com aulas de formação online, via skype. Tudo mobile que não há tempo a perder.

Esta alteração nas nossas vidas que nos é diariamente apresentada ao estilo de segunda hipótese para aprender a viver é miseravelmente digna, de uma falta de ambição envergonhada e catolicamente culposa, como sempre. Não somos só nós, portugueses, a sofrer com isto. Toda a europa, de uma maneira ou de outra, sofre da mesma síndrome. A nossa é só mais pitoresca porque dá-nos para pensar em pequenas coisas. Com exagero, pode-se afirmar que em vez de usarmos os amigos das redes sociais para montar uma fábrica, queremos vender-lhes o artesanato que fizemos sozinhos. Podia dar-nos para querer exportar couves para Bruxelas, mas preferimos a horta em casa ou o talhão na cooperativa. Por cá, os negócios para 2013 parece que vão ser venda de roupa usada, tratar de animais, pessoas e fazer visitas guiadas!

Eu não sou de dar conselhos, mas digo-vos que não vou colocar uma garrafa de 1,5 litros de água no autoclismo (ideia nº. 51 da Revista do Expresso). Eu prefiro, já no início de Fevereiro, fazer parte dos mais de 100 milhões de pessoas no mundo que não vão perder, no intervalo do Super Bowl, a actuação de Beyoncé. Lá mais para meio do ano quero ver o Tonto, protagonizado por Johnny Depp, lado a lado com o “The Lone Ranger”, num filme que promete ser um blockbuster. E de certeza que não irei deixar passar o maior sucesso de 2013, o nascimento de um Mountbatten-Windsor. Se tudo correr bem, como se espera, lá para meio do ano temos um futuro monarca nascido.

As minhas sugestões não passam do meio do ano e até nem são caras. Um bilhete de cinema, “gamar com style” alguns minutos à CBS e assistir a muitas horas de directos por causa de um nascimento. Depois do meio do ano não sei se ainda haverá orçamento que estique como a comida à mesa na ceia do último Natal do Pedro e da Laura. Se houver, o melhor conselho poderá ser de leitura: refundar as ideias políticas por menos de 50 euros com o livro “On Politics”, de Alan Ryan, publicado no final do ano passado. Um livro magistral. Foi assim que a The New Yorker o classificou. Dá para meio ano, no mínimo.

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