Opinião – Os doentes do Lorvão e o café da D. Tila

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Com este titulo publicou o Diário As Beiras um artigo de opinião assinado pelo psicólogo Paulo Henrique Figueiredo. Não pretendo alimentar qualquer guerra sobre doença mental mas importa esclarecer alguns factos.

Os doentes mentais não são iguais, são mesmo muito diferentes.

Todos sabemos que nos grandes hospitais psiquiátricos se fez um enorme trabalho, com qualidade, tratando agudos e mantendo doentes crónicos. A história da psiquiatria esta cheia de bons e maus exemplos, e não serei eu a reescrevê-la…

No Lorvão havia muitos doentes que conviviam diariamente no exterior. Não duvido que a população os considerava como vizinhos, amigos e os tratava com simpatia. Mas, no Lorvão, também viviam outros doentes que não conviviam com a comunidade. Havia alguns que passavam o dia num corredor , limitados a algumas saídas organizadas e pontuais ao exterior, e um conjunto de pessoas, designadas como “gatistas” , que tinham um regime diferente de clausura. Foram algumas destas que foram fotografadas no café de Rio de Vide…

Alguns doentes quando chegaram á ADFP tiveram de ser protegidos com protetor solar dado “estarem “muito” sensíveis ao sol.

Não pretendo criticar o passado. Sei que os enfermeiros e outros trabalhadores do Lorvão, e de outros hospitais psiquiátricos, se esforçavam por fazer o melhor.

Felizmente estes doentes têm hoje na ADFP melhor condições de residência e uma equipa de apoio mais alargada e pluridisciplinar.

Na ADFP , porque as pessoas com doença mental são muito diferentes entre si, temos vários tipos de respostas residenciais.

Os mais idosos e dependentes estão em residências apoiadas, integradas com outras pessoas sem doença mental.

Alguns mais jovens, com maior potencial de autonomia, vivem em apartamentos na vila de Miranda.

Outros , com maiores limitações, muitos vindos do Lorvão e Arnes, habitam em 8 apartamentos tipo T3 e frequentam diariamente o Centro Social Comunitário, onde residem crianças, mulheres grávidas, jovens, idosos e onde convivem com a população.

Na ADFP nenhuma residência tem grades nas janelas ou secção fechada onde residem os mais difíceis…

Tentamos que todas as pessoas com doença mental tenham atividades ocupacionais, mesmo aquelas que sofrem já de maior deterioração cognitiva, decorrente de longas institucionalizações e décadas de evolução.

Alguns frequentam cursos de formação profissional, outros desempenham atividades ocupacionais em varias áreas desde lavandaria, a limpeza, tratamento de animais no Parque Biológico da Serra da Lousã, jardinagem, ateliers de artesanato, etc.

Nas atividades lúdicas e corporais inclui-se a sessão de cinema comercial semanal, biblioteca, ginásio para os que querem, acesso a tratamentos de fisioterapia, etc.

Para nós cada doente mental é uma pessoa que deve ser apoiada e respeitada, de acordo com a sua individualidade e que não deve ser estigmatizada.

Felizmente , mesmo as pessoas com doença mental mais grave, que vivem connosco, não estão condenados ao segredo e são alvo de noticias e atenção por parte da comunicação social.

Sabemos que não somos perfeitos e que o nosso trabalho pode ser ainda melhorado.

O Estado/Serviço Nacional de Saúde paga á ADFP um valor mensal muito inferior ao que estes doentes custavam nos hospitais psiquiátricos.

O Estado (Segurança Social e SNS) paga á ADFP muito menos do que paga a outras organizações que prestam cuidados a doentes em unidades de cuidados continuados ou internamentos psiquiátricos.

Os portugueses podem estar certos que as pessoa com doença mental , apoiadas pela Fundação ADFP, saem muito mais barato ao Estado e que são tratadas com bondade e elevado nível de humanização.

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