Opinião – Morreu o meu amigo bibliotecário

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Maria José Pinho de Miranda

Conheci o Dr. Guerra há 24 anos quando fui trabalhar para a Biblioteca Municipal de Coimbra, ainda no velho edifício na Baixa da cidade. De entre todos os meus colegas bibliotecários era o único a quem eu tratava por doutor, sem nenhuma razão formal para isso. Aconteceu assim, e pronto. Talvez tenha sido a sua figura ligeiramente curvada e a firmeza do aperto de mão na primeira vez que o vi no seu gabinete de trabalho.

Fosse como fosse, o Dr. Guerra era um homem bom, simples, cordial, gentil, bem disposto, cheio de sabedoria, que trouxe para a Biblioteca Municipal de Coimbra uma experiência de vida riquíssima e um empenhamento cívico exemplar. Aprendi muito com ele. Aprendi, por exemplo, que se pode ler às escuras. E que se pode gostar de livros, sem lhes ver as letras nem as cores.

O meu amigo bibliotecário deslumbrou-me ao provar que é possível viver uma vida à volta dos livros apesar de…se ser cego.

Tratou a vida como só os grandes tratam, contornando-lhe os obstáculos com coragem e determinação. Só não conseguiu passar ao lado do traiçoeiro muro que o precipitou numa morte trágica aos 60 anos. Passavam 5 minutos das 5 da tarde do dia 7 de dezembro. Tinha acabado mais um dia de trabalho e estava cheio de projectos.

Agora não sei como substituí-lo na nossa biblioteca.

 

À memória de José Adelino Guerra,,

bibliotecário na Biblioteca Municipal de Coimbra

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