Vem aí a chanceler alemã no próximo dia 12 de Novembro. Será recebida pelos seguidores do costume, os que a alimentam na expectativa de não mendigarem no imediato. Eu só espero que haja alguém com responsabilidades de Estado que não assine a capitulação, alguém que se sinta minimamente ofendido pela forma como a ex-RDA anunciou ao seu partido na Alemanha que alguns países não são honestos e se referiu ao continente europeu como sendo dos alemães. A sequência de visitas alemãs aos países em situação financeiramente difícil mais parecem inspecções.
Há meia dúzia de anos atrás o PSD, tal como o CDS-PP, era contra o federalismo europeu e a favor de uma Europa das Nações. Hoje ninguém parece ser capaz de enfrentar uma única nação, a alemã, que asfixia todas as outras por via da moeda única. A inexistência política de Durão Barroso é confrangedora. O mesmo que abandonou o barco da última coligação governamental à mercê de Jorge Sampaio, que a afundou para abrir caminho ao seu camarada José Sócrates. Com os desastrosos resultados sobejamente conhecidos.
Hoje em dia, quando estamos a pão e a água, o contrato de confiança eleitoral está em risco. Tal como em 2002, há uma linha que não pode nunca ser ultrapassada. Há que ficar do lado certo da escadaria de Odessa. A pequena atitude de hoje pode ser a grande diferença amanhã. Quem se afastar da capitulação manterá a confiança dos portugueses. O Presidente da República e o primeiro-ministro hão-de banquetear-se com Merkel, a quem Gaspar beijará a mão. Desafio Paulo Portas a mostrar ao país que não é funcionário da troika, nem precisa de prestar provas perante Merkel. Alguém tem nos representar na saída do labirinto da austeridade em que nos querem manter cativos.
Falhando este governo, a democracia pode não resistir à austeridade. Cavaco Silva, envergonhado e em depressão pela inutilidade em que se tornou, dificilmente fará alguma coisa. Não vou agora colocar todos os cenários políticos possíveis, que tanto podem ser uma ditadura tecnocrata (Manuela Ferreira Leite pode ser a escolha alemã para a representar em Portugal, pois continua a achar que a democracia dificulta a resolução de problemas complexos), como o bipartidarismo popperiano resultante de um acto eleitoral, o que deixa os políticos com pele de galinha. Sabem bem que não faltam pessoas a pensar que existem políticos e partidos a mais, tal é a aversão que a população sente em relação à classe política.
Fica-nos a esperança das palavras de Charlie Chaplin no filme O Grande Ditador: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça, da amargura dos que temem o avanço do progresso humano. O ódio há-de desaparecer, os ditadores hão-de morrer e o poder que roubaram será devolvido ao povo. Ao contrário dos homens, a liberdade nunca morrerá.”