Neste momento de intenso sofrimento social, muitos exoticamente procuram desculpabilizar o poder político passado e presente dos males que sofremos. Acontece no livro de Guilherme Valente “Os anos devastadores do Eduquês: Contributos para a História da Educação depois do 25 de Abril”, esquecendo-se nele todos os males que vinham de longe. São os descritos sucintamente por Agostinho dos Reis Monteiro em Educação, Acto Político, editado por Livros Horizonte logo após a Revolução de Abril, mostrando este aí também a necessidade de soluções que, por ela, foram concretizadas e defendidas desde então pelos Sindicatos dos Professores. De facto: “Fundamentar estas afirmações contidas nas Conclusões do 3º Tema do «Seminário sobre a democratização do ensino», realizado em Coimbra, de 13 a 17 Novembro de 1974, é o propósito desta, ainda que não circunstanciada, história dos Grupos de Estudo”.1
Foi pouco depois desta data que eu comecei a ser professor, participando desde então na luta por uma Escola Democrática, como colaborador de “O Professor”, professor e sindicalista. Participei também na análise da situação do sindicalismo docente em 1982 num restaurante de Coimbra de onde saiu a decisão de libertar os sindicatos de uma tutela partidária, que os estrangulava, e que levou à criação da FENPROF em Abril de 1983. Estive assim sempre como profissional ativo na defesa de uma Escola Democrática. É o que continuo a fazer.
Analisando o tempo decorrido, concluí, como todos os professores lúcidos, que os problemas que a Escola Portuguesa sofre são o resultado da governação mentecapta, que foi decidindo sempre de forma a degradar o sistema educativo português. Outros, criticaram de forma leviana tudo menos a governação. É o normal dos submissos, dos serventuários do poder e dos cobardes porque nada sabem ou não querem saber do que pode tornar a Escola um lugar de emancipação e de preparação para a vida dos alunos no sentido de John Dewey. Por isso, Guilherme Valente, no livro citado, numa evidente ignorância atrevida de quem não sabe nada do pensamento pedagógico, demonstra ter uma colagem exótica ao poder da troika interna (PS/PSD/CDS), que nos tem desgraçado, e conclui contra toda a lógica e evidência: “O PCP tem uma representação eleitoral reduzida. Uma representação inversamente proporcional à capacidade que tem demonstrado para fazer à educação o tanto mal que lhe faz” (p. 311 ).
Trata-se de uma despudorada manipulação do real em que ninguém pode acreditar, quando se assiste ao desmantelamento da Escola Pública por Nuno Crato que elogia dizendo: “Nunca um ministro teve, como Nuno Crato, uma tão larga confiança dos professores, um tão largo apoio político e social para o fazer” (p. 221 ). Mas, esta “confiança” só lha podem dar os trouxas e os cobardes, mas o tempo não está para eles. Está para os que lutam.
1 Agostinho dos Reis Monteiro – Educação, Acto Político, Livros Horizonte, 2ª edição, Lisboa, s/data, p. 168