Opinião – A linda Emília

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Aires Antunes Diniz

Dizem por aí que nunca houve uma geração tão bem preparada como esta que tem vinte anos e qualquer coisa. Contudo uns governantes de meia tijela dizem que têm de emigrar. Repete-se assim a tragédia dos anos sessenta quando analfabetos e gente de escassa escolaridade partiu à aventura pelo mundo e comeram por lá o pão que o diabo amassou e amassa.

Num livro de Brito Camacho, li que uma atriz do século XIX sofreu os caprichos duns brutais senhores feudais, mas que também foi amado por alguns dos nossos melhores intelectuais da época como D. António da Costa e Latino Coelho. Para compensar “as suas excursões artísticas ao Porto, a Braga, a Viana do Castelo, a Lamego, a Guimarães, a Coimbra, essas excursões permitiam-lhe afastar-se da intrigalhada de Lisboa, não ver pessoas com quem embirrava, não ouvir ditos e mexericos que muito a aborreciam, não se sentir envolvida em enredos que além de serem desprimorosos para a artista, eram muitas vezes caluniosos para a mulher.” Tentou também a emigração para o Brasil, mas o seu sotaque português não agradou e teve que regressar. E como não sabia francês estava-lhe vedada uma carreira artística na Europa. Conta ainda Brito Camacho que não sabia escrever e que sabia ler muito pouco, socorrendo-se de um namorado que lhe lia a peça que tinha de representar mais de vinte vezes para a decorar, mas como tinha qualidades artísticas excecionais tudo resultava sempre bem pois era também muito bonita. Acumulou por isso uma grande fortuna.

Hoje a cultura e a ciência estão em crise no nosso país. Está também em rutura o nosso modo de vida e todos nos sentimos inquietos. Por nós, pelos nossos filhos, pelos nossos netos. Afinal, todos somos obrigados a sacrifícios mesmo e quando negamos a evidência dos factos que nos ferem. Contudo, poucos dizem das razões que levaram a que algumas empresas aventureiramente geridas, quase sempre bancos, se tornassem – dizem eles – demasiado grandes para poderem falir (em inglês too big to fail).

Por isso, na tragédia do BPN e do BCP entreligam-se maus políticos e uns ineficientes senhores do dinheiro, que tentam salvar-se afundando muitas pequenas e médias empresas, quase todas aceitavelmente bem geridas. Mas, fazendo andar a máquina do tempo um pouco para trás, encontramos as razões políticas e, também, as de má regulação que as provocaram e, ainda, os agentes do mal, que são muitos, mas que quase toda a gente conhece…

Encontramos também na continuidade dos males que nos afligem os mesmos partidos, todos eles tentando dizer que são inevitavelmente parte do arco do poder, tal como inevitavelmente temos que sofrer mais austeridade …e emigrar …E agora, pergunta-se: Porque não vão estudar “filosofia” para Paris …

1 – Brito Camacho – A linda Emília, Livraria Editora Guimarães & Cª. Lisboa, s/data, pp.163-164.

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