Opinião – Uma liturgia singular

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Paulo Valério

A um ano de eleições autárquicas, multiplicar-se-ão debates, colóquios e solilóquios sobre as maleitas de Coimbra. E os clínicos do costume apontarão, com gravidade, o diagnóstico e a terapêutica habituais. Gente estimável, na esmagadora maioria dos casos. Mas é preciso que se diga: há muitos anos que as mesmas cabeças discutem as mesmas coisas, sem que se chegue a mudar alguma coisa de essencial.

A política autárquica obedece, em Coimbra, a uma liturgia singular. À medida que se aproximam as eleições, os partidos do arco do poder vestem-se a rigor para auscultar uma mão cheia de senadores crónicos e benzer, de uma assentada, os respectivos programas. Depois de ungidos, apresentam-se a votos sem excessos de originalidade, mas crentes na sabedoria dos mestres e, sobretudo, na generosidade do povo.

Regra geral, podemos dizer que a politica autárquica, em Coimbra, procura qualificar-se por equivalência. Neste domínio, normalmente, duas horas de palestra, com a companhia certa, são suficientes para dar foros de tese a um par de ideias comuns. Um paradoxal desperdício, quando falamos da cidade dos estudantes.

A um ano de distância, talvez tenhamos tempo para inverter o ciclo e construir uma alternativa para Coimbra, simultaneamente, inovadora, ousada e consistente. A esta distância e para escrever com todas as letras, talvez o PS tenha tempo para encontrar um candidato que não seja o mínimo denominador comum entre os socialistas e os cidadãos. Sim, talvez ainda tenhamos tempo. Desde que tenhamos engenho e, sobretudo, desde que exista vontade.

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