Opinião – Borges deixou de tomar os comprimidos

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Paulo Almeida

António Borges, o ex-empregado de tudo e mais alguma coisa a quem Passos Coelho deu a mão, está com a mania por ter deixado de tomar os comprimidos? Ele, já se sabe, ignorante não é: essa categoria pertence aos empresários. Também não deve pertencer ao povo, pois a população está contra o aumento da TSU. Ele está acima de todos nós em inteligência (e em n.º. de ex-empregos também), pois ainda consegue ser consultor do governo. Costuma dizer-se que quem não sabe fazer, apresenta-se de consultor.

A sua influência junto do primeiro-ministro parece ter-se estendido ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, pois o Parecer nº. 64/CNECV/2012, o do badalado “racionamento” dos medicamentos, deve ter o dedo do consultor. O caso é simples de explicar.

António Borges sabe que só é eticamente admissível tratar os doentes desde que antecipadamente se saiba que o tratamento é eficaz. Honra lhe seja feita: é raro assistir a tamanho altruísmo, dignidade e fidelidade às ideias apregoadas, uma vez que ele luta diariamente pela melhor utilização possível dos recursos existentes e declarou guerra no combate ao desperdício e ineficiência na saúde. De tão inteligente que é, sabe da importância da reflexão sobre a saúde das populações e a justa distribuição dos recursos que permita a sua sustentabilidade, hoje em dia seriamente ameaçada.

Qual poeta sem medo, decidiu começar por si e vai provar que tem razão. Dando o exemplo em nome do racionamento, deixou de tomar os comprimidos. A forma como apelidou os empresários portugueses de completamente ignorantes e a linguagem corporal que acompanhou tal expressão, indica claramente que está na fase maníaca: evidente exacerbamento do seu amor-próprio e um sentimento de superioridade e poder sobre todos os outros. Ele, desinibido e descomplexado, vive no “mundo perfeito de Borges”, para quem Portugal já saiu da crise e é um “case study” de sucesso, irritando-se com todos que ousem dizer o contrário, ameaçando-os de chumbo no curso da sua Universidade (será que Relvas escapava com equivalências?).

Felizmente que Borges, um caso perdido (pode ser um mártir da razão), não discorda da visão ética do “maior bem possível” para o maior número. Resta-nos aguardar pela fase depressiva em que talvez desapareça para uma clínica privada (fazendo uso do seu seguro de saúde). Senão, vamos ter de assistir aos seus delírios enquanto houver quem os patrocine, apesar de cientes de que este caso único na cena portuguesa não tem remédio. A bem do racionamento, já não toma os comprimidos. Poético.

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