BD – O regresso de Rui Lacas

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Nos tempos (difíceis) que correm, raros são autores nacionais que se podem gabar de conseguir editar dois livros no mesmo ano. Rui Lacas, com “Han Solo” e “Os Oráculos”,o 2º volume da série “Asteroid Fighters”, dois livros bem distintos que revelam aspectos bem diversos da personalidade do seu autor, é uma dessas raras e honrosas excepções.

Lançado pela Polvo, durante o último Festival de Beja, “Han Solo” traduz a vertente mais autoral de Lacas, com uma história intimista sobre um estudante Erasmus holandês, que troca Lisboa por Madrid, quando a namorada o deixa. Perturbado pelo desgosto e pela doença (Han é bipolar), o jovem holandês vai encontrar em Madrid um espaço para recomeçar e novos amigos que o vão apoiar.

Jogando com a bicromia, num registo bastante próximo do usado em “A Ermida”, o seu trabalhado anterior, em que os tons verdes se articulam com o preto e branco, Lacas tem aqui um dos seus trabalhos graficamente mais conseguidos, com excelentes soluções narrativas, como o momento em que Han recebe a mensagem de Sandra e o movimento da sua sombra reflecte, de uma maneira que só a BD permite, o desespero que o atinge.

O único problema de “Han Solo” é “saber a pouco”. Ou seja, a história acaba de modo demasiado abrupto, como se o autor se tivesse fartado de repente, abandonando Han e os leitores numa fase em que a nova vida de Han começa e muito havia ainda para contar.

Já “Os Oráculos”, 2º volume de “Asteroid Fighters” opta por um registo mais comercial, marcado pela acção e aventura, na melhor tradição dos comics americanos de super-heróis, ou do mangá japonês, com a série “Akira” à cabeça, com mutantes super-poderosos, ameaças globais e vilões maléficos.

Talvez o melhor exemplo, a par do “Dog Mendonça” de Filipe Melo e Juan Cavia, de que é possível uma BD nacional de grande público com qualidade, “Asteroid Fighters” prossegue a história do primeiro volume, uma aventura futurista que se lê com prazer e que assume o seu caracter derivativo e a influência de séries televisivas como “Heroes”, ou filmes como “Armagedon”, tudo revisto pelo humor de Lacas, que transformou muitos dos seus amigos e colegas em personagens de BD.

Não recuando perante nenhum cliché (veja-se o irmão gémeo maléfico de Pepito), Lacas diverte-se e diverte-nos, com uma aventura despretensiosa que tem tudo para agradar aos leitores que não pedirem a “Asteroid Fighters” mais do que Lacas aqui quer e pode dar.

(“Asteroid Fighters 2: Os Oráculos”, de Rui Lacas, Edições Asa, 74 pags, 15,90 €, “Han Solo, de Rui Lacas, Polvo, 64 pags, 10,49 €)

 

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