Opinião – À moda de Lisboa

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Maria Manuel Leitão Marques

Lisboa está na moda” foi o tema e o título de várias reportagens nas últimas semanas. Lisboa está na moda por razões que outras cidades também podem vir estar. Não foi por causa de uma grande obra, um grande centro cultural, uma nova biblioteca, um museu espetacular, uma grande exposição, como nos lembramos de ter acontecido em outros lados.

Em Bilbau, com o Guggenheim, que tornou uma cidade decadente num dos locais mais visitados em Espanha. Em Paris, com o Centro Pompidou, a Ópera da Bastilha ou a Biblioteca Mitterrand, uma sucessão de volumosos investimentos que a conservam como a cidade mais procurada do mundo ou perto disso. Ou mesmo em Lisboa, com a Exposição de 1998.

Também não foi por “obra e graça do espírito santo”, como se a moda de Lisboa tivesse sido espalhada pelo vento que costuma soprar do Tejo.

Lisboa está na moda por efeito conjugado de intervenções planeadas e orientadas no mesmo sentido, assentes na recuperação do património construído, em especial no bairro histórico da Mouraria, da sua animação, com o percurso do Fado, da sua ligação ao Martim Moniz e da valorização desta praça, tanto tempo desprezada e hoje ocupada com uma espécie de buffet de comida étnica, que vai desde o suschi ao ceviche peruano, ou do percurso que daí pode fazer-se, para sul, até ao Terreiro do Paço ou, para Norte, até a um dos quiosques da Avenida da Liberdade.

Lisboa combinou, para este efeito, iniciativa individual com visão coletiva protagonizada pelo seu município. Combinou investimento público, mesmo que limitado pelas atuais circunstâncias, com pequenos investimentos privados. Combinou obra com cultura, história com modernidade. Valorizou o que tinha em vez de chorar pelo que, por ora, não está ao seu alcance.

É esta receita económica que pode ser copiada, adaptada a outros espaços e cidades, à medida dos seus recantos, dos seus tesouros escondidos e das suas potencialidades culturais. Prepará-la “à moda de Lisboa” exige visão, liderança, espírito de risco, paciência, persistência e iniciativa permanente. Tomara que a receita pegue e se espalhe por aí como acontece com as outras modas que igualmente enchem revistas.

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