Opinião – A bomba de neutrões fabricada em Bruxelas (I)

Posted by
Spread the love

Júlio Marques Mota

 

A profunda recessão que se abate por toda a Europa e que pouco a pouco vai corroendo o tecido social de todo este continente assim como a ausência de medidas de solução para da crise financeira se sair, levaram-nos a escrever e a tomar posições em Texto para uma bênção a esta Europa já às portas da morte, como as que se seguem nesta nota introdutória.

Com efeito, a perda de PIB potencial estatisticamente confirmada é algo que nos obriga a questionar como é possível que os povos europeus tenham durante tanto tempo suportado a crise que eles próprios não criaram. Mais grave ainda é o que está ainda para vir e de que as balas em Madrid nos mostram já muito claramente até onde as políticas repressivas estão dispostas a chegar.

Com efeito, se adicionarmos agora o agravar da crise pela situação de Espanha e de Itália, se adicionarmos os efeitos de repercussão sobre as outras economias já deprimidas percebemos o drama brutal que as políticas de austeridade estão a impor, de rendimentos não ganhos a toda a Europa.

E a Itália, com Monti, já está a dançar a dança que os mercados querem, já está a tocar a música que eles pagam para ouvir, Monti já está a prometer mais privatizações, mais políticas de austeridade e com isso serão mais rendimentos que deixarão de ser gerados, mais receitas que pelo Estado deixarão de ser arrecadadas. E, como assinala Nuti, Mário Monti já se presta também à farsa, à comédia com Merkle, a prometer poder variar alguma coisa para que tudo possa ficar na mesma ou pior. E, entretanto o serviço da dívida continua a aumentar, mas a cobrar como? E as dívidas serão pagas, serão recebidas, a partir de quê? Daí a minha pergunta. Daí a minha interrogação, se ao fundo deste plano inclinado em que a Europa parece estar lançada quem haverá disponível para pagar, quem haverá capaz de poder exigir vir a receber?

A este nível do problema lembremos um dos mais geniais escritores alemães, Thomas Mann, em Os Buddenbrook, quando na boca de uma das personagens centrais desta obra nos diz: “sorte e êxito encontram-se em nós próprios. Deveremos segurá-los com firmeza, com vigor. Desde que aqui dentro, começa a afrouxar alguma coisa, tornando-se cansada, imediatamente, em redor de nós, tudo se liberta, tudo faz oposição, rebela-se, e subtrai se à nossa influência…Então as coisas precipitam-se, uma derrota segue-se a outra, e estamos prontos. Nos últimos dias pensei muito num provérbio turco que li em qualquer parte: “quando a casa está terminada chega a morte”. Ora não precisa de ser exactamente a morte, Mas a marcha retrógrada…a decadência…o começo do fim (…). Sei alguma coisa em que não pensaste ainda; sei-a pela vida e pela história. Sei que muitas vezes, os símbolos e os sinais exteriores visíveis e palpáveis da sorte e do êxito aparecem apenas quando, na realidade, já tudo decai. Esses sinais exteriores precisam de tempo para chegar, assim como a luz de uma dessas estrelas ali em cima, da qual não sabemos se já se apagou quando o seu brilho nos parece mais claro…”. Palavras premonitórias, escritas há mais de cem anos que se adaptam como nem uma luva à situação presente. Substitua-se nós pela zona euro e parece que o texto foi feito à medida para ilustrar a situação actual da Europa, que vai de derrota em derrota, com os Estados membros a caírem um a um sob a pressão dos mercados.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.