Opinião – Inauguração do Jardim da Manga

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Aires Antunes Diniz

Uma inauguração é sempre uma esperança por ser augúrio de um mundo novo e de uma confiança renovada no futuro. Contudo, os tempos que vivemos têm sido marcados pelo travo amargo da derrota iminente de todas as boas ideias.

Nada nos faz lembrar os tempos faustosos em que se noticiava que ”hoje com a representação de várias individualidades em destaque nesta cidade, Câmara Municipal, magistrados da Relação e da Comarca de Coimbra, muitas senhoras da nossa melhor sociedade e muito povo, realizou-se a inauguração do «Jardim da Manga», futuro mercado das flores….”

Bem, sou suspeito nesta recordação do “Jardim da Manga” pois sou cliente quase habitual se a quem lá vai pelo menos uma vez por mês se pode chamar tal coisa.

Infelizmente, ao acompanhar como cicerone um amigo de Gaia há poucos dias, deparei-me com o desespero perante a derrota imerecida de um comerciante, meu velho amigo. Mas, disso é feita a realidade da cidade onde se vê o rasto de destruição da nossa governação pois, nesse dia, ao conversar com mais amigos e ao vadiar pela cidade encontrei mais montras vazias e mais portas cerradas. E muitos destes comerciantes conheço-os como gente honesta e trabalhadora que não merecem o que lhes está a acontecer.

Pior ainda, esta não é só a marca do presente em Coimbra. Encontro-a na Guarda e no caminho para a Lusa Atenas na Estrada da Beira, que já vi cheia de negócios e que agora vejo rodeada de bombas de gasolina fechadas, de restaurantes que encerraram e de casas abandonadas e, até, em ruínas. E agora, perante a quebra de turismo, sinto também o Algarve cheio de temores perante a continuidade da sua ruína. É o que se nota nas ruas de Faro e se prolonga para Olhão, como pude ver numa incursão à procura de dados para a História da Educação. Ou seja para a História de uma Esperança, agora mais uma vez em queda e onde, mais uma vez, tudo se tenta mistificar para que ninguém note a desgraça à vista.

De facto, tudo se esconde para que a vida se faça em favor de um tentacular poder financeiro, que tenta continuadamente fazer os povos pagar a sua gestão aventureira e ao sabor de especulações, uma forma perversa com que se manieta a economia real. Entretanto, “reinventa-se” ou melhor “reconstrói-se” a teoria económica, e manipulam-se os números para convencer os incautos de que tudo é culpa dos seus gastos excessivos. Contudo, no caso espanhol, tudo ficou demasiado à vista para que os espanhóis acreditassem nas patranhas agora reinventadas. Vejo nas manifs.

Infelizmente, os nossos jornais de referência não nos querem dar a conhecer esta realidade desmistificadora, prolongando o nosso engano cego que não é ledo.

Saibamos por isso dizer não. Disso depende o nosso futuro.

1 Jornal de Notícias, 14 de Julho de 1940, ano 52º, nº 41, p. 1, coluna 7.

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