Opinião – Prevenção

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Aires Antunes Diniz

Como se receava, as notas de matemática do 4.º e 9.º ano, saídas há poucos dias, foram muito fracas, dando um quadro negro do estado da educação em Portugal. Tinha já lido antes que as notas seriam fracas e foi sem surpresa que vi nas primeiras páginas dos jornais, escassa e acriticamente relatados, os resultados. Agora, o problema é dizer claramente por que tal desastre aconteceu pois as nossas crianças merecem a nossa atenção e o nosso esforço de análise e diagnóstico.

Infelizmente, não consegui encontrar nenhum estudo que ultrapassasse a superfície luzidia do real. Mas, isso é normal num país em que os governantes nunca têm culpa e se limitam a comentar. Mas, para isso, na falta de melhor crítico, estou cá eu e devia haver muitos mais a inquirir o que se passa, ou melhor o que se passou nos últimos anos para que o resultado fosse este. Contudo, basta, fazer um curto exercício de aritmética para concluir que os meninos que agora fizeram as provas do 4.º ano nasceram em 2002 e os que fizeram as do 9º ano nasceram em 1997, tendo os primeiros estado sob a influência de Lurdes Rodrigues/Isabel Alçada durante 6 anos, 60% das suas vidas e os segundos 40%. Infelizmente, tudo continuou na mesma com Nuno Crato, perfazendo, grosso modo, estas más experiências respetivamente 70% e 46% das suas vidas. E, pior ainda, dos ministros anteriores, David Justino até nem conseguiu gerir o sistema de colocação de professores…

Entretanto, fatigados com o ambiente doentio das escolas, muitos professores pediram a reforma e os alunos ficaram entregues a professores desmotivados, com bem menos experiência e sobrecarregados com trabalhos sem qualquer valia para a aprendizagem dos alunos. Contudo, noutros tempos talvez mais difíceis, para que a tuberculose dos familiares não contagiasse as crianças, estas “são (então) internadas num preventório que a Junta Geral terá a funcionar em Penacova, um dos sítios mais lindos e saudáveis de Coimbra. Pela sua situação não haverá igual em Portugal.”1 Sabia-se então dizer o que as prejudicava e era-lhes proporcionado um ambiente alternativo mais são.

Agora, uma estranha abulia impede quem o devia fazer de diagnosticar e intervir profissionalmente com a coragem e assertividade necessária para melhorar os resultados. Choca-me o silêncio dos educólogos e dos professores. Não consigo acreditar nas Ciências da Educação embora pertença à Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Senti até em “incertos” congressos que os temas não tinham sido escolhidos de modo a permitir uma análise crítica do funcionamento das Escolas, limitando-se a bater palmas a maus ministros.

De facto, muitos não têm vontade de propor soluções, nem de questionar os custos da educação e os maus resultados obtidos. Contudo, a educação é demasiado importante para que nos limitemos a encolher os ombros.

Vamos à luta. Tem que ser. As crianças merecem!

1 O Correio do Sul, Faro, 1 de Fevereiro de 1931, ano 11, n. º 728, p. 2, coluna 4.

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