Olinda Rio
“É uma arrogância geracional pensarmos que a paz , a segurança e o bem-estar que temos hoje é algo adquirido”. São palavras de Aguiar Branco, Ministro da Defesa de Portugal, proferidas na passada Quinta-Feira, nas Conferências da Quinta, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, que nos devem fazer pensar.
Penso que todos nos apercebemos de que o Mundo, como o conhecemos, vai mudar radicalmente. Atravessamos um caminho estreito, qualquer pequeno deslize fará descarrilar o percurso de milhões de seres humanos: para um patamar bem mais baixo de qualidade de vida, no mínimo; para o abismo, no limite.
Precisamos de redefinir as nossas prioridades. E não só as políticas, os modelos sociais e a estratégia económica. Também a estratégia de defesa, nomeadamente valorizando a “qualidade, competência, seriedade e sentido de missão” sobejamente reconhecidas à nossa Defesa Nacional através das suas intangíveis Forças Armadas. Mesmo em termos pessoais, precisamos de repensar os nossos valores, repensar o nosso discurso, as palavras que usamos, o amor que professamos aos nossos filhos, aos nossos irmãos, ao nosso semelhante.
Precisamos de repensar a forma como este presente vai condicionar o futuro. E somos capazes. Ainda referindo Aguiar Branco, nesta Conferência, precisamos de ser os portugueses que somos, no seu melhor: inovadores, táticos, “desenrascados” e corajosos como mostrámos ser em períodos bem mais desafiantes da nossa longa e invejável história como País e como Povo.
Na Batalha de Aljubarrota, em 1385, que decorreu após o duro Cerco de Lisboa, apesar de o efetivo dos dois exércitos ser muito desigual, havendo muito mais castelhanos que portugueses, vencemos esta batalha em apenas uma hora. O rei de Castela, e o que restou do seu exército, fugiram, assegurando nós, portugueses, a continuidade da independência nacional apenas com tática, bons aliados e um excelente líder, o Condestável Nuno Álvares Pereira, que obedecia ao nosso único Rei eleito, D. João I de Portugal.
Passaram apenas duzentos anos sobre a invasão de Portugal pelas tropas napoleónicas, sobre o tempo de Napoleão, um tempo de subserviência e subjugação perante o louco imperador que sonhou ter a Europa a seus pés e que, tal como uma carraça, nunca mais largava Portugal.
Impossível termos uma ideia da desgraça existente em todas as localidades por onde o inimigo passou, pois destruíram tudo aquilo que não puderam levar. Mas foi na Península Ibérica que a águia napoleónica começou a ser ferida de morte, como vemos no monumento da Rotunda da Boavista, no Porto, graças à firme e determinada resistência das mulheres e homens, dos quais nos orgulhamos de sermos descendentes, que souberam reagir ao invasor e, sobretudo, souberam encontrar os caminhos para recuperar da destruição e miséria em que ficaram após a derrota e expulsão dos franceses.
É esta a fibra de que somos feitos e por isso acredito que saberemos encontrar os caminhos para sairmos da situação difícil em que nos encontramos hoje.
Aguiar Branco, de forma assumida e com algum humor, diz que, quando faz a barba ao espelho, de manhã, se se visse como um alemão, para quem 2+2 são 4, deprimia e não saía de casa. Mas não.
É um português para quem, no mínimo, 2+2 são 6, 8, mas também podem ser 10 ou 100. É isso mesmo. E isto só é possível a um Povo que já mostrou a sua raça, o seu talento e génio, como dizia Pessoa no início do século passado.
Devíamos ser vaidosos de nós, temos razões para isso.
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