A Comissão Ambiente e Defesa da Ribeira dos Milagres (CADRM), no concelho de Leiria, denunciou este sábado mais uma descarga poluente naquele curso de água esta manhã.
Rui Crespo afirmou à agência Lusa tratar-se de uma situação “indescritível”, tendo em conta a cor da água.
“Não está escura, está preta. Durante a semana foi havendo descargas, mas como não estava cá não foi denunciado. Chega-se ao fim de semana e é o período preferencial para as suiniculturas o fazerem”, refere o porta-voz da CADRM.
O alerta foi dado à GNR pelas 11H00. O comando distrital da GNR de Leiria confirmou à Lusa ter enviado uma equipa do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente ao local.
“Se nada for feito preventivamente não é depois das descargas que se pode encontrar os prevaricadores. Existem cerca de 200 suiniculturas, logo existem 200 suspeitos”, salientou Rui Crespo.
Para o porta-voz da CADRM, “a Ambilis [tratamento e recolha de resíduos] tem elementos para saber quem são os prevaricadores”.
E explica: “existem dados das produções das suiniculturas. Se produziram 200 metros cúbicos e eles não foram transportados, em algum local hão de estar. Logo aí, teriam um suspeito.”
Em plena época balnear, Rui Crespo considerou que as descargas de efluentes representam um “perigo para a saúde pública” e questionou a qualidade da água das praias da região, nomeadamente da Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande. “Com as correntes marítimas, esta água vai lá parar e fico surpreendido com o esforço que existe em omitir esta falta de qualidade da água”, acrescentou.
Rui Crespo acusa ainda “os políticos do poder local” pela “inércia” e “falta de iniciativa não só a evitar como em colocar um terminus nesta situação”.
A região de Leiria é uma das zonas com maior número de suiniculturas do país e as descargas de efluentes para a ribeira dos Milagres causam impacto ambiental equivalente a quase um milhão de pessoas.
A 06 de janeiro de 2006, chegou a ser anunciada a solução técnica e o consórcio que iria construir e explorar uma estação de tratamento de efluentes suinícolas (ETES), na freguesia de Amor, mas desde então o processo tem sofrido sucessivos adiamentos.
Em novembro de 2011, a CADRM solicitou uma audiência à ministra do Ambiente, Assunção Cristas, que nas últimas eleições legislativas foi eleita por Leiria e prometeu durante a campanha empenhar-se em encontrar uma solução para o tratamento de efluentes suinícolas na região.
Em abril, a ministra revelou a intenção do seu Ministério garantir que a construção da ETES em Leiria seja considerada projeto de Potencial Interesse Nacional.
Seria uma forma de garantir “um processo mais rápido de aprovação, licenciamento e entrada em construção” da ETES, sustentou Assunção Cristas na ocasião, lembrando que, devido ao compromisso com a ‘troika’, no que respeita às parcerias público-privadas, era impossível manter o modelo de financiamento até agora seguido.
Texto Agência Lusa
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