Prognósticos só depois do jogo

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Fernando P.L. Boavida Fernandes

Vivemos num mundo governado pelo imediatismo e, por conseguinte, pela pressão de atingir sucesso instantâneo e resultados no mais breve espaço de tempo possível. Infelizmente, esta tendência é visível em todas as áreas de atividade e até em políticas e estratégias, onde, para além do imediato, se deveria pensar nos médio e longo prazos.

A febre dos objetivos, indicadores e resultados também se tem aplicado – em demasia, na minha modesta opinião – à ciência e à tecnologia. Esquecem-se os muitas vezes autoapelidados especialistas da inovação e empreendedorismo que não existe forma de determinar a priori o impacto de um dado avanço científico ou tecnológico, e que tal impacto poderá demorar anos ou décadas a sentir-se. Ao pensar-se apenas em termos de curto prazo, cria-se um caminho errático que pode não conduzir a lado nenhum, algo a que, infelizmente, nos temos vindo a habituar nas últimas décadas.

É certo que, como disse o notável físico dinamarquês Niels Bohr, “as previsões são sempre muito difíceis, especialmente se dizem respeito ao futuro” (frase esta também atribuída a muitas outras personalidades, incluindo o escritor americano Mark Twain) ou, como disse um notável treinador português quando inquirido sobre as suas previsões para o resultado de um clássico de futebol, “prognósticos só depois do jogo”.

Nada é mais certo. São inúmeros os casos em que avanços científicos e/ou tecnológicos só tiveram aplicação ou reconhecimento décadas ou séculos depois de terem sido desenvolvidos. Alguns deles estão na base do funcionamento de coisas tão essenciais nos nossos dias como os computadores, a Internet ou as comunicações móveis, que agora movimentam quantidades incalculáveis de dinheiro em todos os países do globo.

Tomemos como exemplo, entre os muitos possíveis, a invenção dos transmissores rádio por Guglielmo Marchese Marconi (1874-1937), um engenhoso italiano que falhou a entrada na Academia Naval Italiana e na Universidade de Bolonha. Poucos acreditaram no potencial da sua invenção, realizada em 1896 e que permitiu, pela primeira vez, a transmissão sem fios a 2.4 Km de distância.

É claro que nessa época existiam já o telégrafo e o telefone elétricos, com fios, que eram utilizados em escala relativamente larga e que serviam as necessidades dos seus utilizadores, desde simples cidadãos a governos, passando por destacados homens de negócios.

Felizmente que, também no caso da transmissão rádio, alguns – poucos, como sempre – reconheceram o potencial do invento, e decidiram apoiá-lo e investir, apesar de saberem que só no médio ou longo prazo os benefícios seriam visíveis. Mas quantos não terão tido tanta sorte, e quantos inventos e avanços terão ficado adiados ou esquecidos ao longo da história da Humanidade?

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